Governo cede lotes de irrigação a famílias do Assentamento Mário Lago

[Foto: Gabriel Freitas]
No Perímetro Jacarecica II, administrado pela Cohidro, contrato de comodato vai permitir acesso legal à terra, a energia elétrica e financiamento pelo Incra

As 91 famílias do Assentamento Mário Lago, em Riachuelo, receberam do Governo do Estado o aval para buscar o financiamento agrícola e assistência técnica destinados a projetos de reforma agrária via Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e outras instituições. Na última terça-feira (08), foi assinado Contrato de Comodato entre a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) e a Associação Agrícola Mário Lago I. O documento faz o empréstimo para uso gratuito dos dois lotes empresariais do Perímetro Irrigado Jacarecica II ocupados pelo grupo de agricultores familiares. Nos 86,06 hectares concedidos, esses irrigantes contam ainda com dois pontos de fornecimento de água da rede do perímetro para uso na irrigação.

Também por meio do contrato, esses assentados vão poder solicitar à concessionária, a ligação da rede de energia elétrica das casas, construídas via financiamento da Caixa Econômica Federal com o aval da Cohidro. Segundo o diretor-presidente da companhia estadual, Paulo Sobral, a luta dos agricultores familiares tem quase 18 anos. “Embora se trate de uma ocupação que ocorreu no passado, começando por um acampamento, a Cohidro não se colocou alheia à situação destas famílias, sempre buscando uma solução junto aos órgãos envolvidos, como o Ministério Público Federal (MPF) e o Incra. Foi mantido o acesso à água para uso na irrigação, e a concessão do financiamento das casas pela Caixa teve a nossa contribuição desde o começo. Todo benefício destinado ao perímetro Jacarecica II, a exemplo dos concedidos pelo Programa Águas de Sergipe, também passaram pelo Mário Lago”, destacou Paulo Sobral.

[Foto: Gabriel Freitas]
Presidente da Associação Agrícola Mário Lago I, Maria Angélica agradeceu à Cohidro pela formalização do contrato que lhes dá o acesso legal à terra, cuja validade de cinco anos pode ser renovada sucessivamente. “Hoje estamos realizando esse sonho. Não só o projeto para chegar energia, mas também os créditos que o Incra fornece só seriam cedidos através dessa documentação e, graças a Deus, hoje conseguimos o nosso objetivo”, comemora. Maria Angélica explica, ainda, que o número de beneficiários é maior do que o contabilizado só pelo número de assentados. “São 91 famílias beneficiadas, então, é de uma importância muito grande. Mas dessas 91 famílias que são assentadas, a grande maioria tem filhos, sobrinhos, noras, genros e, juntando tudo, dá cerca de 400 famílias. Por isso, essa documentação tem tanta importância pra gente”, reafirma a presidente da Associação.

Segundo o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Fonseca, o Assentamento Mário Lago surgiu de uma ocupação do MST (Movimento Sem Terra) a dois lotes do Jacarecica II que eram empresariais. “Eles conseguiram os recursos para a construção de residências nesses lotes, financiadas pela Caixa Econômica e, por último, precisavam de um contrato oficial entre a Cohidro e a Associação para buscar recursos no INCRA. E junto com o INCRA, a maneira que nós encontramos, juridicamente, foi a elaboração desse Contrato de Comodato, que oficializa a utilização da área pela Associação e seus associados. Com isso, eles vão poder agora buscar recursos federais através do INCRA para assistência técnica, para plantio e uma série de outras atividades”, complementa João Fonseca.

O Jacarecica II
Implantado em uma área de 1.998 hectares, o perímetro irrigado, situado em torno do Rio Jacarecica, leva irrigação para setores dos municípios de Malhador, Areia Branca e Riachuelo. Com 260 hectares de bacia hidráulica, a barragem do Rio Jacarecica tem capacidade de acumulação de 30,4 milhões de metros cúbicos de água. Pelo Programa Águas de Sergipe (PAS), a estrutura recebeu uma revitalização recente e está inserida no Plano de Segurança de Barragens, elaborado pelo Painel de Segurança de Barragens contratado pelo Programa. Ao todo, são mais de 2.965 pessoas beneficiadas, em um espaço dividido em 81 lotes de agricultores familiares com área média quatro hectares cada; 12 lotes empresariais, com área média de 35 hectares cada, totalizando 520 hectares, e três lotes em regime de comodato. Dessa forma, no perímetro são gerados cerca de 820 empregos diretos e 1.600 indiretos.

Dia de Campo do Governo do Estado capacita produtores irrigantes em Riachuelo

Além do Jacarecica II, as capacitações do PAS estão acontecendo também nos perímetros irrigados Jacarecica I e Ribeira, que estão inseridos no município de Itabaiana

Foto: Fernando Augusto

Na última semana, irrigantes dos municípios de Riachuelo, Malhador e Areia Branca participaram de uma série de cursos oferecidos para capacitá-los ao uso adequado de Agrotóxicos. Na bacia hidrográfica do rio Sergipe, a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – Cohidro mantém três perímetros irrigados. Foi no Jacarecica II que os agricultores participaram de dois Dias de Campo, concluindo a semana de atividades.

Integrante da comissão intersetorial do governo que vem acompanhando as capacitações, a técnica da Cohidro, Maria Teresinha Albuquerque, explica que o Programa Águas de Sergipe – PAS realiza recuperação ambiental nas áreas da bacia hidrográfica, e a exploração dos recursos naturais [terra e água] de forma responsável e sustentável – incluindo o uso racional dos agrotóxicos. “Eles tiveram, durante a capacitação, aulas teóricas e práticas, culminando com esse dia de campo”, disse. Contabilizando palestras e treinamentos práticos, o curso promove 12 horas-aula para cada produtor.

Além do Jacarecica II, as capacitações do PAS estão acontecendo também nos perímetros irrigados Jacarecica I e Ribeira, que estão inseridos no município de Itabaiana.

João Batista Santos Filho recebe irrigação da Cohidro em seu lote no assentamento Mario Lago, em Riachuelo. “Maravilhoso, viu. Bom, porque o pessoal é gente boa; tudo assim, ‘amigueiro’ e por isso estamos juntos aí”. Atraído pela receptividade dos capacitadores, o irrigante entende a importância de aprender a forma correta de utilizar os agroquímicos. “Tem muita gente que trabalha, mas não sabe o efeito que ele faz. O ‘cabra’ pensa que não, quer trabalhar de qualquer jeito. Tem que trabalhar capacitado, para saber trabalhar com agrotóxico, porque senão, morre”, alerta.

Instrutor no dia de campo, o técnico em segurança do trabalho Marcos Roberto dos Santos Nascimento explicou aos agricultores a maneira correta de utilizar os equipamentos de proteção individual (EPI) apropriados à manipulação e aplicação de agroquímicos. “A gente busca conscientizá-los sobre a importância do uso dos EPIs. Não só usar pela obrigatoriedade – pelo governo, pelo empregador -, e sim pela importância do uso. Tendo a consciência de que aquilo ali é para o bem do próprio trabalhador, para a própria saúde. A saúde dele tem que vir em primeiro lugar”, argumentou. Ele sugere que o investimento em um EPI, em torno de R$ 150, evitaria um custo ainda maior, descontado na saúde do agricultor.

Reação em cadeia e agroecologia
“É de suma importância para tudo, o uso correto dos agrotóxicos. Trazendo o bem para agente, que está na área. Sabendo a forma certa de usar, a gente acaba fazendo o bem para as outras pessoas”. O pensamento da jovem Pauliane Alves dos Santos leva em conta a cadeia de envolvidos na produção agrícola, desde quem está próximo ou trabalha na lavoura pulverizada, até para quem vai consumir aquele alimento. Se o agricultor, por exemplo, não respeitar o período de carência especificado pelo fabricante do defensivo agrícola e puser o alimento à venda antes, quem consumir poderá sofrer contaminação pelos agentes químicos tóxicos ainda não eliminados pela planta.

Pauliane é da Colônia Penha, também em Riachuelo – onde a irrigação do Cohidro chega através do perímetro Jacarecica II. “Meu pai aplica, mas agora vou saber orientar. Tive muita informação. Então o curso foi muito bom e muito produtivo. E vou levar para a minha base, para o meu terreno, para o meu pai e para o meu irmão, que também aplica”, concluiu a agricultora familiar. Os ensinamentos também alertam quanto à forma correta de aplicar o agrotóxico, levando em conta os horários e a incidência de chuvas. São situações que podem contaminar ar, água e solo, prejudicando o meio ambiente e quem ali vive.

O senhor Vicente de Andrade, agricultor também do Mario Lago, conta que – sem querer – tem praticado o método mais eficaz de combater todos os efeitos nocivos dos agrotóxicos, que é a não utilização. Ele vem substituindo produtos industrializados por receitas alternativas para combater pragas, doenças e plantas invasoras. Não nega que poderá vir a lançar mão ao uso dos produtos, mas afirma que agora que está capacitado, sabe que existem regras e restrições a serem respeitadas. “Estou achando ótimo. A Importância é grande, porque se a gente for trabalhar, já sabe. Eu já usei, mas hoje trabalho sem ele”, considera – argumentando que o uso dos agroquímicos incide em aumento da produção.

Águas de Sergipe
O programa Águas de Sergipe é resultante de um contrato firmado entre o Governo de Sergipe e o Banco Mundial no valor de US$ 117.125.000,00, sendo US$ 46.850.000,00 a contrapartida do Estado. O PAS tem como finalidade a melhoria da qualidade da água na bacia hidrográfica do rio Sergipe e a prática da exploração sustentável dos recursos naturais. Desse montante, US$ 8 milhões serão destinados à Cohidro para ações de modernização da infraestrutura dos perímetros irrigados, segurança de barragens, assistência técnica e capacitação aos produtores.

 

Última atualização: 6 de maio de 2021 19:06.

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