Em Lagarto, agricultor irrigante desafia clima no plantio de espécies frutíferas incomuns

Cohidro incentiva produtores atendidos nos perímetros irrigados a diversificar culturas para conquistar mercados

[Foto: Jorge Henrique]
Na entrada do distrito sede de Lagarto, no caminho de quem vem de Salgado, fica a propriedade de Edelzio Góes. Nos seus 2,3 hectares de área plantada no Perímetro Irrigado Piauí, ele não se contenta em plantar as espécies comuns aos outros 420 lotes atendidos pela irrigação do Governo do Estado; como milho, macaxeira e pimenta. A produção de mamão Havaí está consolidada e lhe garante boa freguesia, já que o fruticultor encontrou meios de produzir praticamente sem pesticidas, mas inventivo e inquieto, ele também quis plantar pinha e uva. Contando com a irrigação fornecida pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), Edelzio não para e, agora, faz experiências com um cultivo ainda mais incomum ao clima quente do centro sul-sergipano: o morango. E já começou a investir em uma estufa, para plantar a fruta protegida de pragas.

Quem bota fé na capacidade de Edelzio e dá orientação para cada nova cultura que ele põe na terra é o técnico agrícola da Cohidro, Willian Domingos, responsável por atender os irrigantes do setor do perímetro Piauí em que o lote do agricultor está localizado. “Ele introduz certas culturas aqui, que às vezes nós não apostamos. A pinha, por exemplo, é uma cultura que enfrenta vários problemas com o vento, na polinização. Mesmo assim, ele apostou e estamos apoiando. Já conseguimos colher algumas, de boa qualidade, mas ainda não foram comercializadas. O morango foi outra cultura que alertamos a ele dos riscos de fungos e bactérias. Mas a intenção dele é inovar, cultivando o morango dentro da estufa”, conta.

Edelzio encara o desafio de plantar frutas diferentes do habitual em Lagarto. Lança mão da sua criatividade para superar as dificuldades, mas também investe nos seus sonhos. “Gosto de experiências, tanto que plantei pinha que ninguém tinha. Mamão e morango quem começou também fui eu, e tudo isso é bem inovador. Tenho o tratorito, onde faço o serviço de limpeza, uso a grade e faço pulverizações também puxadas por ele. Tenho investido na construção da estufa que pretendo fazer, para ajudar no plantio de morango”, revela o agricultor. Para ele, a retribuição vem quando alcança o resultado que espera, antes mesmo do seu esforço lhe gerar lucro. “Me sinto muito realizado quando faço alguma coisa que dá certo. Mesmo ainda não tendo uma produção em grande escala, já comemos bastante pinha aqui nesse ano e, no ano que vem, com certeza já dá para comercializar”, confia o produtor irrigante.

Embora no perímetro da Cohidro em Canindé de São Francisco a produção de uva já esteja em nível comercial, no perímetro de Lagarto a cultura é uma novidade. Willian Domingos acompanha de perto, e aprende com a evolução dos parreirais. “Nós temos alguns desafios aqui e trouxemos três variedades: a Vitória com os porta-enxertos 313, e Paulsen, e a Itália. Porém a Itália terá de ser eliminada, por não ter produzido nada e com grandes problemas com doença”, avalia Willian. Para ele, a dificuldade no cultivo da uva é a umidade. “Aqui chove em torno de 1.000 a 1.300 mm/ano, com isso, muitas doenças surgem e o controle se torna mais complicado”, explicou o técnico. Ainda assim, ele acredita que a cultura promete bons resultados, se empregada a tecnologia certa nas videiras plantadas há cerca de um ano e meio.

“A gente nunca sabe de tudo, né?! Estamos sempre aprendendo. A experiência aqui é boa, está produzindo, mas ainda é em pequena quantidade. Espero que quando a planta ficar mais velha, ela comece a produzir mais, porque o investimento foi alto e temos esperança que uma hora melhore. Temos pontos positivos e pontos negativos, porque a umidade relativa do ar é muito alta, então ela dá muita doença fúngica, como o ‘míldio’; e quando dá essa doença no cacho da uva, ele não vinga e se perde inteiro. Temos procurado controlar, mas no período de chuva é difícil. Nossa felicidade é a pessoa comer e gostar. Mesmo que não tenha bom lucro, a gente sabe que está produzindo coisa boa”, diz o viticultor Edelzio. Ele ainda garante que, na fase maturação de suas 400 videiras, não aplicou nenhum pesticida, permitindo o consumo seguro dos frutos in natura.

Produtores de Lagarto voltam a apostar no plantio de fumo

Cohidro contabiliza 100 hectares plantados no Perímetro Irrigado Piauí.
Em 2019, o preço do quilo do fumo beneficiado chegou aos R$ 15

Seu Wilson, há mais de 40 anos produzindo e beneficiando fumo na área onde atua o perímetro Piauí [Foto: arquivo pessoal]
Os bons resultados alcançados na safra do fumo no ano passado, em Lagarto, animaram os produtores, levando em 2020. No Perímetro Irrigado Piauí, cerca de 100 hectares são ocupados pela plantação de fumo. Na época de colheita, de setembro a dezembro, pelo menos duas vezes por semana saem carregamentos para indústrias locais e, em boa parte, para o estado de Alagoas. O Governo de Sergipe, através da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação (Cohidro), auxilia na manutenção da produção, fornecendo água para irrigação das plantações e assistência técnica agrícola dentro do perímetro.

A colheita do fumo é realizada de forma manual, através da mão de obra local. O produtor rural, Deleon Manuel, conta como é feito esse processo. “Nós plantamos e, à medida que vai crescendo, a gente faz a ‘capa’ (corte), assim sempre renovando, crescendo e capando. O ponto certo para fazer esse corte é quando a folha está ficando amarelada e inchada”, explica. Após o processo de seleção das folhagens, elas são espalhadas em arames e expostas ao sol para dar início à etapa de secagem. Alguns cuidados são tomados para não haver perda das folhas, como por exemplo, sua posição, para evitar o acúmulo de água em dias chuvosos.

Logo em seguida, o fumo é triturado, prensado e enrolado. Assim, inicia-se uma segunda etapa, que o agricultor Antônio Carvalho chama de processo de ‘cura do fumo’. “Pegamos o rolo triturado e prensado e colocamos no sol; depois de um tempo, viramos de volta para o sol e assim sucessivamente. Desse jeito, ele vai curando, ficando mais escuro e com o cheiro mais forte. O ponto de cura ideal é quando o rolo do fumo está completamente duro, seco e na coloração preta. Geralmente ficam expostos ao sol por um período de 60 a 90 dias”, afirma. Após todo este processo, o fumo é comercializado em cordas, que formam grandes rolos. Em 2019, o preço do quilo do fumo beneficiado alcançou R$ 15, e R$ 4 o quilo da folha entregue aos produtores que fazem a cura.

O técnico agrícola da Cohidro, Willian Domingos, conta que a colheita no Perímetro Irrigado Piauí é considerada longa. “Geralmente os agricultores plantam em maio ou junho e dão continuidade à lida até dezembro. E com o sistema de irrigação da Cohidro, esse período pode aumentar em até 1 ano e meio”. Ele afirma também que, há muito tempo, o fumo tinha ficado inviável na região, mas nos últimos 3 anos, com a melhora nos preços, o produtor voltou a acreditar na cultura. Por isso, o fumo em Lagarto representa um fator importante para a comunidade. “A economia local se beneficia de forma representativa no comércio, porque o investimento do produtor nesse cultivo não é tão alto, mas o seu retorno é imediato”, conclui.

Para Gildo Almeida, gerente do perímetro da Cohidro em Lagarto, uma boa irrigação é de suma importância para o fumo e outros cultivos. “Se não houver o bombeamento que o perímetro faz, a água não chega na plantação. Além do fumo, auxiliamos o desenvolvimento de outras culturas. São quase 30 tipos de culturas produzidas o ano inteiro. É muito gratificante ver a satisfação do produtor como resposta aos nossos serviços”, relata. No Perímetro Piauí, 421 lotes são irrigados durante todo o ano, beneficiando 3.515 pessoas diretamente com o serviço mantido pelo Governo do Estado. Anualmente, é colhida uma produção média que se aproxima das 10 mil toneladas, entre alimentos e outros produtos de consumo, como fumo, material forrageiro e plantas ornamentais, injetando na economia local algo em torno de R$ 17 milhões a cada ano.

Irrigação pública favorece cultivo do mamão havaí em Lagarto

No perímetro irrigado do Estado, a produção anual em média é de 150 toneladas

[Foto: Ascom/Cohidro]
O mamoeiro, que pode chegar a quase 10 metros de altura, dá fruto doce e suculento, bastante popular no Brasil. Seu cultivo tem ganhado espaço em Sergipe, a partir da irrigação, há bastante tempo. No estado, a variedade mais produzida e comercializada é o mamão havaí, também conhecido como papaia. No município de Lagarto, a 75 km da capital, o Governo do Estado fornece água e assistência técnica agrícola para que agricultores produzam o mamão de forma competitiva aos produtos vindos de outros estados. Com o subsídio oferecido através da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e irrigação de Sergipe (Cohidro) e o uso de recursos tecnológicos, como a fertirrigação e a microaspersão, os produtores geram renda familiar e abastecem, com o fruto, os mercados de  Lagarto e região, durante o ano inteiro.

No Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Cohidro naquele município, o agricultor Josenaldo Conceição possui 3 mil pés de mamão distribuídos em parcelas, cada uma plantada em uma data, que começam a produzir cerca de sete meses após o plantio. Segundo o fruticultor, a estimativa é que sua produtividade média alcance 16 toneladas por hectare. “Em média, consigo tirar de 40 a 50 caixas por dia, quando as coisas estão no auge. Ouvi dizer que era bom e decidi experimentar. Gostei e continuei plantando”, considerou o produtor. Ele utiliza a fertirrigação, em que a adubação é diluída na água de irrigação, e a microaspersão – equipamentos de dispersão de água que geram economia, ao irrigar somente a parte necessária. Ele conta também que, por ter plantado em épocas diferentes, consegue vender o ano inteiro, algo que já faz há quatro anos, desde que começou a apostar no mamão.

A tática de cultivar pomares de mamão em épocas diferentes também é adotada pelo produtor Edelzio Goes, que planta o fruto há quase 10 anos e, hoje, possui mais de 1.500 pés, divididos entre suas três lavouras. “Vale muito à pena, apesar de ser trabalhoso. Aparece muita doença, por isso, tem que ter muito cuidado para produzir”, afirma. Para o produtor, a qualidade vale mais que a quantidade na hora de precificar a produção. “Você pode plantar muito, mas se não cuidar direito, não tem qualidade. Do meu cultivo, vendo tudo para uma única pessoa. Às vezes, é um pouco difícil calcular a quantidade da produção. Recentemente, tirei mil caixas. Então, se for calcular como se tivesse 30kg cada, daria 30 toneladas, mas esse número também não é muito preciso”, detalha.

Por ter raiz curta e esparramada, é necessário fazer o controle da quantidade de água, para que o excesso não prejudique as plantas. A assistência dos técnicos agrícolas do perímetro Piauí orienta os produtores a fazer esse controle de disponibilidade hídrica, além do controle fitossanitário, prescrevendo tratamentos para pragas e doenças, como aponta Willian Domingos, técnico agrícola da Cohidro. “No primeiro passo, é feita uma análise do solo, em seguida, o coveamento. A análise do solo serve para compreender quais os tipos de adubo que poderão ser usados. Na produção do Josenaldo, por exemplo, foi utilizado o esterco bovino. Já o processo chamado de coveamento consiste no tamanho da escavação onde o mamoeiro irá se enraizar”, orienta.

O técnico agrícola afirma, também, que para o cultivo ter um bom desenvolvimento é necessário se atentar aos cuidados desde a sua germinação, preparando bem o solo. “Nas plantações dos dois irrigantes é usado o espaçamento entre plantas 2x2m e, entre linhas, 2,5m. Agora, eu recomendo 2,5×2,5m entre plantas e 3m entre as linhas. As covas têm 40x40cm de profundidade e largura”, conta Willian. No perímetro de Lagarto, a produção de mamão em 2018 foi de 151 toneladas, produzidas em uma área total de 2 hectares, à época. Em valores corrigidos pelo IGP-M, a produção rendeu aos irrigantes aproximadamente R$ 134 mil.

[vídeo] Irrigantes de Lagarto apostam no cultivo de uva em perímetro da Cohidro

O programa Sergipe Rural, da Aperipê TV, foi em Lagarto mostrar a experiência feita pelo agricultor irrigante Edelzio Goes, que decidiu plantar uva em seu lote onde a irrigação chega a partir do Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Cohidro. São dois produtores do perímetro que, baseado no sucesso alcançado por outros dois irrigantes do Perímetro Irrigado Califórnia, em Canindé de São Francisco, decidiram apostar na cultura também no Centro-Sul Sergipano.

Em ambos os polos agrícolas do Governo do Estado, os quatro plantios das videias tem a base tecnológica na unidade Semiárido da Embrapa, em Petrolina-PE, município de onde também vieram as mudas das plantas.

[vídeo] Abóbora é a nova aposta dos irrigantes de Lagarto

O programa Sergipe Rural, da Aperipê TV, foi a Lagarto mostrar que no Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Cohidro, tem produtor dedicando parte dos seus lotes ao plantio de variedades de abóbora, em vista no mercado da alimentação, mas também para a indústria de produtos de limpeza.

A pouca incidência de pragas especializadas na cultura, a facilidade de cultivo e a disponibilidade de irrigação, quer permite plantar durante todo ano, incentivam os novos produtores. No perímetro, são esperadas produtividades entre e 40 e 50 ton/ha, com a irrigação, adubação correta e fazendo o monitoramento das pragas e doenças.

Irrigantes do perímetro da Cohidro em Lagarto apostam no cultivo da abóbora

Nova no perímetro Piauí, cultura enfrenta poucos inimigos naturais e já tem canal de escoamento
Foto: Gabriel Freitas

Mais uma cultura surge para compor o rol de produtos cultivados a partir do uso da irrigação pública no município de Lagarto: a abóbora. No Perímetro Irrigado Piauí, alguns produtores já optaram pelo plantio do vegetal. Entre os que estão na primeira lavoura e os que começaram antes, já são contabilizados resultados positivos nas plantações. A Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – Cohidro considera positiva a aposta e incentiva novos cultivares através da assistência técnica, por entender que a diversificação reduz a fixação de pragas e doenças, e evita a superprodução de um só item.

Willian Domingos, técnico agrícola da Cohidro em Lagarto, conta que a abóbora está sendo uma novidade no perímetro e que, por isso, tem pesquisado bastante sobre a forma correta de plantar, tomando por base outras áreas de cultivo no estado, sem o uso de irrigação. “A média estadual da no Alto Sertão é de 25 ton/ha. Nós, aqui, pretendemos chegar a uma produção média de 40 a 50 ton/ha, com a irrigação, adubação correta e fazendo o monitoramento das pragas e doenças. O produtor tem que aplicar cálcio. A deficiência de cálcio provoca uma doença chamada ‘Fundo Preto’, além das pragas [Vaquinha, Percevejo e Cigarrinha], que devem ser controladas preventivamente”, alerta.

O agricultor irrigante Adjan Fontes já está em sua quinta plantação de abóbora da variedade ‘Lagarteira’. Tendo colhido bons resultados, ele acredita ser um bom negócio, contando com o apoio da Cohidro, que fornece irrigação ao seu lote e de outros 420 produtores. “O manejo da abóbora aqui região é fácil. A nossa região proporciona poucas pragas e doenças. Com o sistema de irrigação da Cohidro, conseguimos cultivar em qualquer época do ano, com chuva ou sem chuva, porque sempre tem água pra fazer a irrigação. O primeiro plantio eu comecei com uma área pequena, só pra experimento. Fui ampliando e, hoje, estou com duas tarefas [0,66 ha], com custo baixo”, avaliou.

Na diversificação de culturas, o produtor não sofre com o prejuízo de apostar em um só plantio, correndo o risco de perder a safra. “Decidi inovar para além das minhas outras plantações, como o mamão – meu cultivo principal. Se nele eu tiver uma queda na produção, já tenho a abóbora para compensar. Não fico dependendo só de um comércio”, argumentou Adjan. Em operação desde 1987, o Perímetro Piauí vivenciou a repetição de cultivos tradicionais, que provocaram a fixação de algumas pragas específicas, nas plantas mais comuns. Este é mais um motivo pelo qual os técnicos agrícolas incentivam a troca periódica do tipo de lavoura nos lotes dos perímetros irrigados.

Quanto à comercialização, o produtor revela que o bom mercado para a abóbora foi um fator que causou surpresa. “Meu medo no inicio era plantar uma nova cultura e não ter a quem vender. Mas quando eu plantei e produzi, ela veio com uma qualidade boa e aí começou aparecer gente querendo comprar”, disse Adjan. Ele afirma que não teme a concorrência no perímetro. Muito pelo contrário, ele aposta na união. “O pessoal daqui começa a plantar, atrai mais compradores de fora e conseguimos vender em grande quantidade. Junta todo mundo, para saírem os caminhões cheios, levando 20 a 30 toneladas. Aí todo mundo vende. Vamos ter produção, saída, compradores e melhor preço”, conclui.

Estudantes de Agronomia da Bahia visitam o perímetro Piauí

O Programa Sergipe Rural, da Aperipê TV, fez a cobertura da visita acadêmica feita – por estudantes de Agronomia vindos de faculdade da Bahia – aos lotes que produzem mudas, frutas e hortaliças orgânicas no Perímetro Irrigado Piauí, em Lagarto. Lá onde a produção agrícola é mantida pelo Governo do Estado, através da irrigação fornecida pela Cohidro aos 421 irrigantes.

Leia também a matéria completa sobre a visita clicando aqui.

 

Perímetro irrigado de Lagarto recebe visita de estudantes de Agronomia da Bahia

O dia de campo no pólo irrigado da Cohidro atende ao cronograma acadêmico das disciplinas de Fruticultura e Entomologia Agrícola
Foto: Fernando Augusto

“As aulas teóricas são necessárias, mas no campo, podemos ver e colocar em prática tudo que nos é ensinado”, disse a universitária Jéssica da Silva, que cursa o 5° período de Engenharia Agronômica na Faculdade do Nordeste da Bahia – Faneb, em Coronel João Sá. A jovem fez parte do grupo de estudantes e professores que visitaram o Perímetro Irrigado Piauí, no município sergipano de Lagarto, uma parte da infraestrutura que o Governo do Estado mantém, distribuindo água de irrigação a 421 lotes agrofamiliares.

Durante a aula de campo, os estudantes puderam conhecer exemplos de produção certificada de mudas frutíferas, de banana prata anã e uma amostra de produção orgânica de hortaliças. “A gente tem uma estação de bombeamento (EB) na barragem, a 5 km daqui, no rio Piauí, com uma adutora de 600 mm que faz a água chegar nesse reservatório secundário, onde a EB-02 distribui a água em sete setores, em sete povoados aonde estão os lotes”, explicou aos estudantes o técnico agrícola da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – Cohidro, Willian Domingos.

Dessa forma, pôde ser ampliado o raio de visão que os visitantes têm do escritório-sede do perímetro, onde também conheceram a Estação Meteorológica. Dali, segundo ele, equipamentos de mensuração do clima tanto geram dados necessários para determinar o tempo e o período para irrigar no dia, como também alimentam o banco de informações climáticas do estado.[pullquote align=center]

Assista à reportagem do programa Sergipe Rural sobre a visita clicando aqui.

[/pullquote]O foco maior da visitação foi a produção irrigada de espécies frutíferas que, conforme explicação do técnico da Cohidro, se faz de forma consorciada, possibilitando a diversificação da produção, e evitando que o agricultor sofra tanto com os altos e baixos do mercado. “Ele tem o maracujá, mas também tem o quiabo, coentro e a macaxeira. Ou seja, o produtor tem a diversificação de culturas e não enche o lote de uma cultura só. Se há 30 dias, o maracujá custava e R$ 4 o quilo, hoje está a R$ 0,50, aí tem que ter outra cultura para garantir a geração da renda familiar”, exemplificou Willian.

O professor Lucas Aroaldo expôs que a visita serviu para mostrar como funciona toda a infraestrutura envolvida, que vai desde a assistência técnica até a estrutura que a Cohidro oferece para esses produtores. “Os técnicos são capacitados para o entendimento da agricultura familiar desse policultivo, que envolve desde a olericultura orgânica até a produção de espécies frutíferas. É de suma importância que os alunos tenham contato com essas experiências de setores e com os produtores assistidos pela Cohidro”.

Depois de conhecer a complexa produção de mudas do produtor irrigante Nivaldo Araújo, a estudante Jéssica afirmou que a aula de campo foi interessante. “Possibilitou que pudéssemos absorver novos conhecimentos e saber de que forma é feito todo o processo [de produção] das mudas de cada cultura”, complementou a universitária. O irrigante Nivaldo Araújo, por sua vez, conta que para estar certificado a fornecer mudas citrícolas em Sergipe, segue um rigoroso controle de qualidade das matrizes, devendo haver muita disciplina nas rotinas de segurança fitossanitária. “O controle de pragas aqui dentro depende de mim, porque o segredo são as portas dos viveiros, por isso, todos os dias eu estou aqui. Digo aos funcionários que se gera um foco de doença aqui, perde tudo e o prejudicado não sou só eu, mas sim todos nós”, ressaltou.

O grupo ainda foi conhecer a produção de banana prata anã do irrigante Rosendo Santos, que realiza o controle de pragas com os métodos convencionais; e a produção orgânica de João Pacheco, onde o controle de pragas é feito usando processos alternativos. Nesses locais, o professor Fábio Leal, que ensina sobre os insetos inimigos das lavouras, pôde mostrar aos alunos, na prática, o trabalho de manter as plantas sadias, com e sem o uso de agrotóxicos. “Essas viagens servem para os alunos terem uma visão mais integral do processo agropecuário, aí eles vão fazendo os links necessários entre uma disciplina e outra. Hoje, tentamos identificar algumas pragas, métodos de controle e o que pode ser feito para minimizar os problemas causados por insetos”, concluiu.

 

Irrigantes de Lagarto investem no mamão havaí

Intervalo entre linhas de mamoeiros ainda permite o plantio de outras culturas de ciclos curtos e pequeno porte, como a batata-doce - Foto Fernando Augusto (Ascom Cohidro)
Intervalo entre linhas de mamoeiros ainda permite o plantio de outras culturas de ciclos curtos e pequeno porte, como a batata-doce – Foto Fernando Augusto (Ascom Cohidro)

Para dinamizar as culturas exploradas em seus lotes irrigados e incentivados pela demanda criada por novos pontos de comercialização para frutas frescas, como o novo Mercado Municipal de Lagarto, agricultores inseridos no Perímetro Irrigado Piauí investem no plantio do mamão havaí. A variedade precoce começa a produzir em menos de um ano de plantio e pode chegar há dois de colheita contínua. Para tanto, eles recebem o incentivo do governo do Estado, ao serem assistidos pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), no fornecimento de irrigação e assistência técnica agrícola.

Edilma Leal Fontes cuida da plantação de 0,5 hectare (ha) de mamão havaí em seu lote. Nele, ela conta que tem a ajuda da nora que faz a colheita, já que a iniciativa e investimento no plantio foi feito pelo filho, Adjan Leal Fontes. “As mudas foram plantadas em maio do ano passado e começamos a colher, agora (início de junho). Estamos entregando ao comprador à R$ 35 a caixa (30 quilos) do mamão. Foi meu filho que tinha vontade de plantar, eu só ajudo, pois ele trabalha fora”, explicou a agricultora de Lagarto, há 75 km de Aracaju.

A plantação no lote de Adilma é feita usando a microaspersão, que o filho dela tem intenção de melhorar, quando investir futuramente na fertirrigação. “Nesse sistema de irrigação, todo adubo, os nutrientes que a planta precisa, chega diluído na água, aumentando o nível de absorção e eliminando o desperdício da adubação de lance”, argumentou o técnico agrícola Willian Domingos da Cohidro, que assiste o setor do Perímetro Piauí onde está o lote.

A produtora, porém, relata que a maior dificuldade enfrentada no plantio, até a gora, é na classificação do produto, já que os compradores só aceitam aquela peça de mamão havaí de formação uniforme e simétrica, sem deformações e no tamanho padrão de mercado. “Você abre e o mamão é o mesmo. Só é diferente por fora mesmo, mas não querem levar. Do outro tipo de mamão, o redondo, eles pagam só R$ 20 a caixa, nesse, nem isso”, lamenta Edilma.

Willian explica que o manejo indicado aos produtores é de colocar, em cada cova, duas mudas de variedades diferentes, para não haver perda e que por isso pode haver diferenciação no formato dos frutos. “A intenção é de sempre priorizar o mamão havaí, só deixar o do tipo ‘redondo’ se não desenvolver a muda principal”, explica. O técnico ainda conta que o manejo indicado para a plantação de mamão é sempre usar a Calda Bordalesa para cicatrizar os pontos onde há ‘ferimentos’ no caule, seja no desbaste das primeiras folhas ou depois que arrancados os frutos. “Assim evita a proliferação de fungos, que podem até matar a planta”, completa.

Programas de aquisição de alimentos
Para o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, uma forma de diminuir as perdas por conta do rigor da classificação de mercado aplicado às frutas, é fazer parte de projetos governamentais de compra da produção. Nesse aspecto, a Companhia é parceira dos produtores irrigantes dos perímetros estaduais, fornecendo irrigação e a assistência técnica necessária para quem vai precisar produzir o ano inteiro, mas também auxilia as entidades – associações e cooperativas de produtores – na regularização da documentação necessária e formulação de projetos, principalmente na proposta à ‘Doação Simultânea’ que é feita à Conab.

“No PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) da Conab, via ‘Doação Simultânea’ às entidades de assistência a grupos vulneráveis, e no Pnae (Programa Nacional Alimentação Escolar), gerido pelas prefeituras; o produto atende a uma classificação feita a partir de seu valor nutricional, em dietas estipuladas por nutricionistas. Como vai servir geralmente para o preparo direto de refeições não é, por obrigação, avaliado por padrões meramente estéticos e ainda mais de tamanho, já que tudo é comercializado a partir do seu peso. Claro, seja na feira ou nessas entregas, o produto sempre vai ter que atender às exigências sanitárias, tem que estar em estado de conservação apropriado ao consumo humano”, exemplifica João Fonseca.

Diversificação
Diretor-presidente da Cohidro, José Carlos Felizola considera válido que os agricultores diversifiquem suas produções, avaliando tanto o surgimento de novos pontos de venda quanto à alternância na atividade rural para competir melhor no mercado. Para ele, ainda existe a importância de alternar o status de Sergipe de consumidor para produtor da fruta, deixando de contribuir só com 0,63% da produção nacional, mesmo o Brasil sendo o segundo maior produtor mundial de mamão.

“Não tem como todo mundo produzir a mesma coisa sempre, simplesmente por ser menos complicado ou uma tradição herdada de família. Assim chega a um ponto de ter que baixar o preço de venda para competir com tanto produto igual no mercado. O Governo do Estado, por um lado dá incentivo na irrigação, na assistência, mas contribui criando pontos de comercialização. Foi assim com o novo Mercado Municipal de Lagarto e em breve teremos duas novas ‘Ceasas’: em Itabaiana, obra do Proinveste, e em Canindé de São Francisco, construída em área da Cohidro. Então, vai aumentar a demanda por mamão e demais gêneros que hoje boa parte vêm de fora. Mais um motivo para investir nesse tipo de produção e gerar renda aqui dentro”, acredita Felizola.

Ampliando o plantio
Josenaldo Da Silva Leal também tem 0,5 ha plantados da variedade havaí no Perímetro Piauí, aonde já começou a colher há 6 meses. Incentivado pelos resultados obtidos, já iniciou nova área. “Acabei de fazer uma colheita desse lote que plantei há 12 meses e tem mais duas plantadas: uma parte iniciada faz 2 meses e a outra há 15 dias, totalizando mais 1 tarefa (0,33 ha) plantada de mamão. Ouvi dizer que era bom e decidi experimentar. Gostei e vou continuar plantando”, comemora o produtor que consegue vender sua produção por até R$ 40 a caixa, utilizando a fertirrigação por microaspersão.

Gerente do Perímetro Piauí, Gildo Almeida Lima informa que gradativamente a produção de mamão só tem aumentado e que os técnicos da Cohidro incentivam a adoção da cultura. “Hoje temos seis produtores irrigantes no Perímetro que aderiram a produção da fruta. Juntando cada uma destas plantações, totalizamos 2 ha plantados com mamão. A tendência é aumentar, conforme for o sucesso de cada produtor que já plantou”, analisa.

Última atualização: 24 de novembro de 2019 11:57.

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