Banana-da-terra surge como cultivo viável na irrigação pública em Riachuelo

Perímetro irrigado não precisa bombear água, por isso não repassa tarifa aos irrigantes

[foto: arquivo pessoal]
Até hoje, era pouco provável encontrar plantios comerciais de banana-da-terra nos perímetros irrigados estaduais administrados pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri). Mas isso mudou quando Francisco de Araújo, agricultor no município de Riachuelo, em seu lote no Perímetro Irrigado Jacarecica II arriscou e teve êxito plantando e colhendo a variedade de banana para comer cozida, frita ou assada, e que faz parte da lista de alimentos saudáveis da maioria dos nutricionistas. Empreendedor, o irrigante vende frutas e hortaliças em uma banca no Mercado do bairro Augusto Franco, na capital, e passou a repassar a sua banana-da-terra aos clientes por um preço bem mais em conta e fresca, se comparado à época em que trazia a fruta da Bahia.

“Porque a banana da terra aqui, na nossa região, não tinha e vinha da Bahia, de fora, muito cara. Como eu tinha a [banana] prata, eu disse: é uma banana que eu vou fazer um teste aqui na minha área. Daí comprei ‘10 filhas’ [mudas que nascem ao pé da bananeira adulta], plantei e deu certo. Depois eu ampliei a plantação e tá dando bem ela”, avaliou Francisco de Araújo. O agricultor contabiliza que a produção da banana-da-terra já está compensando o investimento e a intenção é aumentar o tamanho da área ocupada pelo fruto, em seu lote de 8,5 hectares. “Eu já cheguei a tirar cachos de 45 kg e já cheguei a tirar aqui de 50 a 52 caixas de banana por semana, só dá terra”, comemorou o irrigante.

Francisco de Araújo reconhece que a sua plantação de banana-da-terra só se tornou possível com o uso da irrigação, que em seu caso, é feita de forma racional. Ele usa sistemas que não desperdiçam água, molhando somente as raízes da planta. “É irrigada, no caso quando chega na época do verão a gente molha de 2 em 2 dias, ou de 3 em 3 dias a gente está dando uma ‘molhadinha’ nela. Eu tenho irrigação por gotejamento e tenho pelo microaspersor. A água vem da barragem do Jacarecica II. A irrigação é a parte fundamental. Sem a irrigação, esse bananal todo bonito, verde, estaria tudo virando e caindo. Sem água não vai para frente. Esse perímetro irrigado aqui foi uma bênção de Deus e a gente tá aqui nesse perímetro há mais de 20 anos já”, relembrou o agricultor.

Perímetro Irrigado Jacarecica II
Abrangendo Riachuelo e também partes de Areia Branca e Malhador, o perímetro garante o sustento de aproximadamente 3 mil pessoas, dando acesso à assistência técnica e a água fornecida pela Cohidro sem nenhum custo compartilhado com o agricultor, já que ela chega aos lotes pela força da gravidade, sem bombeamento, como informou o gerente do perímetro Jacarecica II, Osvaldo Andrade. “Nós temos uma barragem de 31.000.000 m³ de água (muito grande) que fica em uma parte alta, e os lotes ficam mais embaixo. A água sai por gravidade, em uma tubulação de 1.200mm e chega nos lotes em 75mm, por isso que dá essa pressão. Todos os lotes aqui são irrigados e não tem problema nenhum com água, porque dá para todo mundo e ninguém perde pressão por causa do volume de água que existe lá no reservatório”, destacou.

É parte das orientações feitas pela assistência fornecida pelos técnicos da Cohidro, neste e nos outros cinco perímetros, a exploração dos lotes irrigados com uma grande variedade de cultivos. Para evitar grandes perdas, por conta de pragas e doenças, e o excesso de produção dentro do perímetro, que inviabiliza o escoamento das safras. Seu Francisco segue isso à risca. Além da banana-da-terra, ele ainda planta as bananas prata, ‘pão’ e ‘maçã’; mamão; abacaxi; batata-doce dos tipos ‘cenoura’, ‘beterraba’, da roxa e branca; macaxeira e ainda inhame. “No Jacarecica II tem de tudo, a maior parte é acerola e batata-doce; tem amendoim, milho, todas as variedades tem. Aqui é assim, eles não plantam muito de um produto. Dividem os lotes, todo mundo planta um pouco de tudo e não falta nada. E não falta água, sempre tem água pra todo mundo”, complementou Osvaldo Andrade.

Acerola verde amplia renda de irrigantes em perímetro mantido pelo governo do Estado

Fruto é vendido pelo dobro do preço antes de amadurecer, por conter de três a quatro vezes mais vitamina C
Valmir: “Com a água que chega no perímetro irrigado do governo, conseguimos produzir de forma satisfatória” (foto: Stefânia Leal)

Produtor rural em Malhador, município do agreste sergipano localizado a 49 km da capital, seu Walmir de Oliveira Silva cultiva acerola há 12 anos para vender a feirantes e à indústria de polpas. Agora, ele comemora a opção de comercializar o fruto ainda verde, ampliando a rentabilidade da plantação e abrindo mais postos de trabalho em seu lote. Profundo conhecedor do cultivo, ele avalia a acerola como uma lavoura que tem um mercado franco e rentabilidade boa. “Com a água que chega no perímetro irrigado do governo, conseguimos produzir de forma satisfatória”, comenta o agricultor, satisfeito.

O perímetro é uma unidade de irrigação pública mantida pelo governo do Estado, que fornece água para irrigação nos municípios Malhador, Riachuelo e Areia Branca, sem onerar os produtores. Quem administra a infraestrutura e fornece assistência técnica agrícola no Jacarecica II, desde a sua implantação, é a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – Cohidro, estimulando a escolha de novos modelos produtivos que se diferenciam do que habitualmente é praticado nessas localidades, com o objetivo de criar novos mercados e evitar superproduções com dificuldade de escoamento.

“Temos um reservatório de 31 milhões de m³, que abrange todo o perímetro, mais 25 km de rede para conduzir a água por gravidade para todos os lotes. Se não fosse esse reservatório, não tinha toda essa produção. É a água que gera renda para os produtores”, diz o gerente do Jacarecica II, Osvaldo Andrade. A produção agrícola de cerca de 3.000 pessoas são diretamente beneficiadas pela irrigação de 829 hectares no perímetro, onde há 12 lotes empresariais, três em comodato e 609 famílias em assentamentos de reforma agrária.

A acerola já era vendida in natura nas feiras e para fábricas beneficiadoras de polpa. Mas, agora, a possibilidade de a indústria transformar o fruto verde em pó criou um novo produto para os plantadores ofertarem, podendo alçar um preço de venda duas vezes maior que o valor da acerola madura. Isso porque a concentração de Vitamina C na fruta antes de amadurecer pode ser de três a quatro vezes maior. Com ela, a indústria fabrica essências que dão sabor e fortificam outros alimentos, como sucos, sorvetes e bolos.

João Quintiliano, diretor de Irrigação da Cohidro, acrescenta que mais produtores irrigantes poderão passar a fornecer acerola verde em Sergipe. “Cerca de 30 produtores de acerola do perímetro Jacarecica II estão fornecendo acerola verde para uma indústria de alimentos localizada em Estância. O melhor é que a demanda pela acerola verde ainda tem espaço para crescer, visto que já foram iniciadas as tratativas para que os irrigantes que atendemos lá em Canindé [de São Francisco], no perímetro Califórnia, também passem a fornecer o produto para a mesma indústria, integrando a cadeia produtiva”, informa.

No período de colheitas, mais frequentes no verão, seu Walmir conta que contrata de 15 a 20 trabalhadores. Para ele, a escolha pela cultura da acerola vai além da demanda que a indústria da Vitamina C abriu. “A acerola tem uma vantagem muito grande, por se tratar de uma planta adaptável ao nosso clima tropical, uma planta rústica. Existem pragas, (tratadas) principalmente com adubação química; e quando a gente irriga, faz o controle natural”. O produtor reforça que a irrigação fornecida pelo governo do Estado tem sido fundamental para a continuidade da produção. “O gerente aqui do perímetro tem acompanhado todos os produtores. Só tenho a agradecer a Cohidro e pedir a continuidade desse apoio que eles já vêm dando”, concluiu.

Última atualização: 6 de maio de 2021 19:06.

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