Comissão Estadual da Produção Orgânica visita perímetros da Cohidro

Formalizada desde 2010, a OCS em Lagarto que é formada em sua maioria por produtores do Perímetro Piauí

Terça e quarta-feira, 14 e 15, a Comissão Estadual da Produção Orgânica (CPOrg-SE), visitou os perímetros irrigados Piauí e Califórnia, administrados pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) em Lagarto e Canindé de São Francisco, respectivamente. Representantes da Cohidro, Emdagro (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe), Universidade e Instituto federais de Sergipe (UFS e IFS), Ministério Público do Trabalho (MPT) e organizações não governamentais (Ong’s), se reuniram com os agricultores familiares integrantes de organizações de controle social (OCS), visando orientar e reorganizar esses grupos produtivos, assim como atrair novos adeptos à agricultura orgânica.

Atualmente a CPOrg-SE é constituída por 22 integrantes, metade deles representam entidades ligadas ao poder público e os demais são oriundos de Ong’s. Desde quando foi instituída – pelo Decreto Presidencial 6.323 de 2007 – a Comissão era coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Buscando uma gestão independente, a partir do ano passado a própria pasta federal instituiu um processo eletivo entre os representantes não governamentais, para escolha da função diretiva. Sendo assim, foi eleita coordenadora a representante do Sebrae-SE, Luciana Oliveira Gonçalves, por um período de dois anos.

Sobre sua indicação pela maioria das Ong’s, Luciana considera que “na verdade influi pouco, pois na comissão todos trabalham e tem influência de igual maneira”, assinalou. Os integrantes das OCS’s estão habilitados pelo MAPA à venda direta de seus produtos ao consumidor. A Coordenadora, durante as reuniões, expôs aos membros destas organizações que eles possuem a função de fiscalizar a atuação uns dos outros e a partir desta autogestão, intervém a CPOorg-SE e o Ministério. “Vocês têm que passar para a gente os nomes dos que não estão participando, atuando. Pois vocês estão se responsabilizando pelo o que essas pessoas estão fazendo, seja certo ou errado”, elucidou.

Representando a Cohidro na CPOrg-SE, Maria Terezinha Albuquerque relata que a OCS visitada em Lagarto é consolidada e está em atividade desde 2010. “São agricultores familiares com credibilidade perante a sociedade e ocupam espaços em feiras agroecológicas. Produzindo alimentos livres de agrotóxicos, eles estão oferecendo e consumindo alimentos saudáveis e mais nutritivos, protegendo a própria saúde, dos consumidores e das futuras gerações. E isso acontece a partir do controle ‘de qualidade’ social, onde eles mesmos e a sociedade fiscalizam a autenticidade da produção orgânica”, considerou a técnica que atua nos perímetros irrigados gerenciados pela Empresa, através da sua Gerência de Desenvolvimento Agrícola (Gedea).

Delfino Batista é um dos agricultores desta OCS. Assistido pela Cohidro no Perímetro Irrigado Piauí, onde também é irrigante, soma mais de 10 anos produzindo sem agrotóxicos. Ele alerta que não é difícil do consumidor identificar aqueles comerciantes que tentam se aproveitar da crescente aceitação aos alimentos agroecológicos. ”Nas feiras, há pessoas que dizem que vendem, por exemplo, o tomate orgânico. Todo mundo sabe o quanto é difícil produzir isso sem agrotóxico. E indo lá perguntar, a pessoa não sabe nem qual a técnica que foi usada para plantar aquele tomate”, caçoa o produtor que vende em feiras de Lagarto e Aracaju.

Segundo o chefe da Divisão de Política e Desenvolvimento Agropecuário do MAPA, André Barretto Pereira, a modalidade agrícola ainda não supre a demanda de Sergipe. “O processo de novos produtores tem sido muito pequeno, o que tem aumentado é a questão dos pontos de comercialização. A sociedade, na verdade, está demandando muito mais, só que a produção não tem acompanhado”, avaliou ele, informando que “hoje aqui no Estado nós temos 22 OCS’s, distribuídos em 17 municípios e um total de aproximadamente 250 produtores envolvidos nesse processo”.

Para o presidente da Cohidro, José Carlos Felizola Filho, o momento é oportuno para o incremento da produção orgânica nos perímetros irrigados. “A irrigação é indispensável para produção de hortaliças e quando o agricultor tem acesso à água de forma pública, ele corta muito dos custos que teria para obter água por conta própria. Então pode investir e se especializar nesse tipo de cultivo. Para isso eles também podem contar com a assistência de nossos valorosos técnicos. Dedicados profissionais que, inclusive, elaboraram a nossa cartilha indicativa de ‘Produtos Alternativos para o Controle de Pragas e Doenças na Agricultura’, material que agora vamos reeditar com a parceria do MPT”, anunciou.

A Cartilha foi inicialmente publicada em 2011, também com o apoio do MPT. Representando a Instituição na CPOrg-SE, o procurador do Trabalho Manoel Adroaldo Bispo defende que incentivar a agricultura orgânica é uma forma de proteger a mão de obra rural do uso indiscriminado dos agrotóxicos. “A partir do momento em que se mostra ao produtor, em especial à sociedade, que é possível produzir produtos alimentícios de forma saudável, sem impactar o meio ambiente e a sociedade trabalhadora, não resta alternativa ao MPT se não apoiar e incentivar todos os fóruns, todas as comissões que apresentem essa opção efetiva e segura. Esse é o papel do MPT”, analisa.

Califórnia
Na quarta-feira, a caravana da CPOrg-SE ganhou o incremento de representantes da UFS e IFS, para participar da visitação à Associação Sergipana de Orgânicos (Bio5), em Canindé. Formada por agricultores do Perímetro Califórnia, também da Cohidro, o grupo tem duas produtoras integrantes de uma OCS e outros oito agricultores interessados à conversão agroecológica e assim, terem o registro do MAPA que os autorizem à venda de orgânicos.

Edmilson Cordeiro, gerente do Perímetro Irrigado, acredita que o momento é de reorganização dos grupos produtivos. “A agricultura orgânica no Califórnia já teve seu tempo de empolgação inicial, chegando a ter um grupo possuindo contrato com uma certificadora orgânica, o que é mais do que ser de uma OCS. Mas as dificuldades que eles enfrentavam eram grandes sem usar agrotóxico e voltaram à agricultura convencional. Agora que, de fato, a sociedade está optando pela produção orgânica, o consumo está crescendo e também muito se avançou em pesquisas na Agroecologia, pode ser o tempo deles voltarem novamente os olhos para isso”, explicou.

O técnico agrícola Tito Reis é quem acompanha as agricultoras inseridas na OCS: Quitéria da Silva Araújo e Maria Aparecida Nascimento Santana (Cida) em suas áreas, onde cada uma já ocupa uma banca específica e separada, só para venda de orgânicos, na feira de Canindé. Também orienta os outros produtores do Perímetro Califórnia que têm a intenção de se regulamentarem com o MAPA. Para esse processo de conversão agroecológica, são aplicadas as práticas de cultivo, aos novatos, em uma área anexa ao escritório da Cohidro na cidade de Canindé.

“Nessa área estamos cultivando, por cerca de quatro meses, alimentos livres do uso de agrotóxicos. Aplicando biofertilizantes e outras técnicas alternativas de controle de pragas. O resultado disso é que gerou uma excelente produção e então abrimos um espaço para receber consumidores, para famílias da área urbana virem e escolherem o que vão levar, ou então colherem eles mesmos as hortaliças direto nos canteiros, vendo como acontece o cultivo e que não existe uso de veneno. Este e um modo de também educar, de formar público consumidor desses produtos aqui na cidade”, considerou Tito Reis.

Veja um álbum de fotos completo, das visitas da CPOrg-SE, abaixo:

Última atualização: 20 de dezembro de 2017 09:34.

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