Capacitação pretende preparar profissionais aptos a projetar sistemas de irrigação localizada

Engenheiro agrônomo e mestre em Irrigação, Luiz Gonzaga Luna Reis faz parte do quadro funcional da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) e foi convidado pela gerência do Perímetro Irrigado Califórnia para aplicar um Curso de Irrigação. O público alvo são os técnicos e ‘tecnolandos’ em Agropecuária, respectivamente os servidores e estagiários desta unidade da empresa em Canindé de São Francisco. As primeiras aulas do ano ocorreram nesta segunda e terça-feira, 29 e 30.
A demanda, que pretende fazer uma reciclagem dos técnicos e enriquecer o currículo dos estudantes, é na elaboração dos projetos de irrigação localizada, definindo o passo a passo da implantação de sistemas eficientes, econômicos e adequados às normas legais de uso da água, seja dentro do perímetro irrigado, seja a partir de outros mananciais. Só no perímetro Califórnia, distante 198 km de Aracaju, são 333 lotes atendidos pela irrigação pública fornecida pela Cohidro, onde o projeto original, persistente ainda na maioria destas áreas produtivas, é com aspersão convencional e móvel, que tanto apresenta uma baixa eficiência de irrigação, quanto consome bastante tempo no deslocamento das tubulações dentro da área irrigada.
Desta maneira, Gonzaga iniciou o seu curso, na teoria e prática, tratando do recurso hídrico disponível para irrigar os lotes em que se pretende aplicar os projetos, no caso do Califórnia, os canais. “O trabalho feito no canal é para determinar a vazão. Do jeito muito semelhante ao que se faz em um rio. Se você vai fazer um projeto de irrigação, tendo um rio, a metodologia é praticamente a mesma, para a determinação da quantidade de água. Você só faz a determinação da área que vai irrigar, em função da água que você tem no riacho. E essa determinação tem que ser feita no mês crítico do ano, em termos pluviométricos”, explanou.
Gonzaga, servidor público há 35, demonstra grande gosto em passar adiante o conhecimento acumulado nesse período de atuação profissional. Tempo em que ele foi, inclusive, projetou irrigação na África a partir das águas do Rio Nilo, convidado pelo governo da República do Sudão, em 2008. “Nós estamos começando agora, essa foi a primeira aula, mas a minha intenção é deixá-los prontos, inclusive com auxílio de um GPS, para levantar as áreas de campo, determinar a vazão do manancial a ser usado para irrigação e encima disso, fazer um projeto completo de irrigação localizada, de microaspersão ou gotejamento”.
João Quintiliano da Fonseca Neto, Diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro (Dirir), apoia a iniciativa da gerência do perímetro de Canindé. “É um trabalho constante nosso, o de influenciar e convencer os nossos produtores irrigantes para a substituição dos métodos de irrigação. Em Itabaiana, onde nós temos dois perímetros irrigados, faz parte das ações do ‘Programa Águas de Sergipe’ (PAS), a troca completa dos sistemas de irrigação pela microaspersão (projeto elaborado por Gonzaga e aprovado pelo consultor do Banco Mundial), tamanha é a necessidade da substituição desses equipamentos de uso à época da criação dos perímetros, mas hoje ultrapassados”, analisou. O PAS é do Governo de Sergipe, gerido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) e financiando pelo Banco Mundial, adequando o uso da água da bacia do Rio Sergipe à eficiência e a preservação ambiental em mais de 80 ações.
Balde Cheio
O programa ‘Balde Cheio’ de produção de leite foi implantado de forma bem-sucedida no perímetro Jabiberi, também da Cohidro, em Tobias Barreto. Atualmente, servidores dos dois polos irrigados e da Dirir, trabalham em uma transferência de tecnologia para implantação do modelo em Canindé. Segundo a gerente do Califórnia, Eliane de Moura Moraes, isso foi o que motivou a capacitação. “Dr. Gonzaga veio para dar uma orientação no projeto ‘Balde Cheio’, inicialmente. Quando ele chegou ao campo, viu a irrigação inadequada, o pessoal coloca uma bitola maior, usando o método errado, causando desperdício de água e os técnicos daqui já sem argumento para combater. E ele então resolveu fazer esse curso, o que foi uma coisa muito boa, fantástica, ele é muito competente”.
Os dois dias de curso desta semana são uma sequência, tendo havido outros dois encontros em 2017, quando participou outra turma de estagiários hoje formados, conforme informa Eliane Moraes. “E ele viu também os estagiários, sem muita noção do que era irrigação e quase formados, essa é a ultima etapa do curso deles. O pessoal está muito satisfeito, tanto que iam ser só essas três etapas, mas vai ter mais, para finalizar”. Para a gerente, o resultado não poderia ter sido melhor. “Ele é muito sério, muito disponível, muito seguro nas informações que ele dá. Está de parabéns a Cohidro em ter um profissional desse em seu quadro”, completou.
Capacitação do servidor
Para o diretor-presidente da Cohidro, José Carlos Felizola, toda e qualquer ação que venha capacitar o servidor, finda em melhorar a qualidade do serviço público oferecido. “Nesse período em que toda máquina pública do Estado está reduzindo drasticamente qualquer despesa que não seja o essencial para garantir o funcionamento dos órgãos públicos, infelizmente, não estamos podendo investir em capacitações externas. Assim, saber que dentro da própria estrutura da empresa é possível poder contar com a colaboração, com o coleguismo de quem pode compartilhar os conhecimentos com o próximo, é gratificante, justifica nosso esforço em defender o nome e batalhar por melhorias nessa empresa. Obrigado Dr. Gonzaga, pela ajuda bem-vinda aos colegas e para a Companhia”, ajuizou.
Um dos técnicos da Cohidro que participou das capacitações é Antônio Roberto Ramos. Para ele, o curso está tendo bastante aproveitamento. “Esse curso é uma sequência do que iniciamos no módulo anterior. Tudo que é repassado é uma sequência de estudo, mas não é repetitivo, irrigação é um tema bastante extenso”. O servidor participou também das aulas anteriores e vê sempre coisa nova a cada encontro. “Ele fez uma revisão e depois sequenciou, com novos conteúdos, como cálculo de vazão em um canal de irrigação trapezoidal, medição de vazão de microaspersores em campo. Conteúdo que não tínhamos vistos no módulo anterior”, descreveu, acrescentando que essas atividades práticas tiveram a participação de todo o grupo.
Dom José Brandão de Castro
Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) ‘Dom José Brandão de Castro’ fica no município vizinho de Poço Redondo e tanto tem utilizado da estrutura e lotes dos irrigantes atendidos pela Cohidro, para aplicar aulas práticas, como tem fornecido mão de obra temporária à unidade de Canindé da Empresa, através dos estágios curriculares de conclusão de curso. Uma reciprocidade que auxilia o trabalho de atendimento ao agricultor que, ao mesmo tempo, melhor prepara estes futuros profissionais para o mercado de trabalho.
“Esse curso é um enriquecimento muito grande para os estagiários, que vão aplicar não só no perímetro, mas se aparecer um projeto particular, os mesmos estarão capacitados para realizar, vão poder fazer, como mais uma opção para abertura de mercados de trabalho”, concluiu o agrônomo Luiz Gonzaga.




















