Comissão de Orgânicos e Seides visitam perímetro da Cohidro em Lagarto

Comitiva de técnicos visita o Perímetro Irrigado Piauí da Cohidro – Foto: Felipe Coringa

Membros da Comissão de Produção Orgânica de Sergipe ( CPOrg-SE) fizeram mais uma visita aos pólos de irrigação da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro). A intenção é de acompanhar o andamento das associações e agricultores que aderiram aos métodos de produção de alimentos livres de agrotóxicos. Nesta terça-feira, 10, foi a vez do Perímetro Irrigado Piauí, no município de Lagarto, onde a atividade agroecológica acontece desde o ano 2000.

A Secretaria de Estado da Inclusão Social (Seides) tem participado destas visitas. Com intuito de cadastrar novos agricultores orgânicos para integrar as “Feiras da Agricultura Familiar”, a Seides organiza duas novas edições nas quais pretende lançar exclusivamente com produtos orgânicos, e em Convênio com a Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA). Nesta visita, também estiveram presentes representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural de Lagarto (Semader), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS).

A Organização de Controle Social do Centro Sul Sergipano (OCS-CSS) foi criada em 2010 e atualmente conta com 18 membros. A associação de produtores orgânicos do Perímetro Piauí existe desde 2008 e é constituída por 10 dos produtores da OCS-CSS, mas alguns deles já produzem sem o uso de agrotóxicos há 14 anos. Eles possuem certificado de cadastro junto ao Mapa, que os permite a venda direta do produto orgânico através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O atual coordenador da CPOrg-SE e chefe da Divisão de Política e Desenvolvimento Agropecuário do Mapa, André Barretto Pereira, após a visita que fez a sete lotes orgânicos do Piauí, explicou a intenção desta ida a Lagarto. “A gente está fazendo este trabalho de resgate e fortalecimento das OCS’s em todo Estado e estamos levando o máximo de parceiros nestas visitas, a exemplo da Seides, IFS, secretarias municipais e a própria Cohidro, porque, conhecendo de perto essas unidades produtivas, poderemos ajudar ainda mais a esses agricultores, tanto na produção com qualidade, como na comercialização, bem como nos trabalhos de conscientização da importância do consumo do alimento orgânico para os consumidores em geral”, disse.

André Barretto avaliou como positiva a produção dos orgânicos do Perímetro Piauí, “ mas acredito que esses agricultores devem trabalhar de forma mais organizada e coletiva, como tem que acontecer em uma OCS”, completa. Em relação ao Estado, comentou também que já são 19 OCS em Sergipe e mais duas estão em fase final de aprovação. Uma delas é a do Perímetro Irrigado Califórnia, em Canindé de São Francisco, onde os irrigantes da Cohidro, que criaram a Associação Sergipana de Orgânicos (Bio5), receberam a mesma visita da CPOrg-SE no último dia 20 de maio. Ele adiantou que até o final do mês de julho, estes agricultores agroecológicos do Alto-Sertão receberão seus certificados os autorizando à comercialização de orgânicos.

Outro membro da CPOrg-SE presente na visita foi a professora doutora Eliane Dalmora, do IFS. A bióloga, além de atuar na fiscalização e regulamentação dos produtores orgânicos no Estado, também coordena um projeto de pesquisa acadêmica que envolve os irrigantes do Perímetro Piauí, o “Sementes da Terra”. “Pertenço à Comissão, mas temos um trabalho de preservação das sementes crioulas com os integrantes da OCS de Lagarto, focado, dentre outras variedades, na horticultura. Nesse projeto introduzimos algumas práticas de manejo orgânico, que os auxiliam a produzirem melhor”, conta.

Na Organização de Controle Social, como o nome já diz, os próprios produtores têm a obrigação de refletir sobre os modos de produção, e por isso, visitas às áreas dos demais componentes do grupo são estratégicas para troca de experiências, em que um pode corrigir os erros do outro”, explica o técnico agrícola da Cohidro alocado no Perímetro Piauí, José Raimundo Pereira de Matos. “Se um componente do grupo não estiver cumprindo as normas da produção orgânica, ele terá que ser notificado pela própria OCS para que num momento posterior seja eliminado desse grupo”, revelou ele que é o responsável pelo acompanhamento e registro dos orgânicos em Lagarto.

A gerente de Desenvolvimento Agropecuário da Cohidro, Sônia Loureiro, é membro representante da Companhia na CPOrg-SE. Ela é uma das principais responsáveis pela viabilização da produção orgânica no Perímetro Irrigado Piauí e pela formação da OCS-CSS. Para ela, esta visita técnica à Lagarto veio em boa hora, pois o grupo estava precisando de um estímulo, já que esta “autofiscalização” na OCS-CSS, não estava acontecendo da forma ideal como se pretendia.

“Estamos fazendo estas visitas para ver de perto, quem está disposto a continuar trabalhando de forma coletiva e assim poder avaliar, quem tem realmente interesse em continuar participando da OCS. Tenho certeza que, se pelo menos uma vez ao ano as OCS’s forem visitadas pela CPOrg-Se, os agricultores ficarão bem mais confiantes da importância e da força que eles têm e se sentirão estimulados a continuar melhorando ainda mais, pois hoje alguns já têm consciência dos riscos da agricultura convencional e das vantagens da produção orgânica”, elucidou a agrônoma Sônia Loureiro.

Quem não quer sair da OCS e garante a autenticidade dos seus produtos orgânicos é o irrigante pela Cohidro João Pacheco, um dos visitados pela CPOrg-SE. “Quem trabalha errado, não fica no mercado. Quem oferece na feira um produto orgânico sem ser, logo é descoberto. Eu não vejo problema em virem visitar minha horta, porque sei que estou trabalhando correto”, estabelece o produtor agroecológico que desde o ano 2000, é referência em Lagarto, tanto que recebe vários outros agricultores interessados na produção livre de agrotóxicos para conhecer sua plantação, a exemplo do Bio5 de Canindé.

Mardoqueu Bodano, Presidente da Cohidro, relaciona o aumento do número de irrigantes orgânicos a mudança no comportamento da sociedade nos dias de hoje. “O produtor está consciente dos riscos que corre quando usa defensivos químicos e quando falamos de pequenas plantações, é inviável aderir às tecnologias nas quais máquinas fazem a aplicação do agrotóxico e livram o agricultor do contato direto. Por isso a agroecologia é a prática ideal para a agricultura familiar. Por outro lado, o consumidor é cada vez mais conhecedor dos benefícios que a alimentação saudável lhe traz. Por isso tem-se consumido mais frutas, legumes, verduras, porque esse consumidor já sabe que vai encontrar muito mais qualidade quando estes alimentos são orgânicos”, comenta.

Feiras orgânicas
Depois de ter ido ao Perímetro Califórnia em Canindé avaliar o trabalho dos irrigantes do Bio5 e também ter visitado assentamentos rurais onde há produção orgânica em Umbauba, Estância e Itaporanga d’Ajuda, o Técnico do Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional (Dsan) da Seides e coordenador estadual do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA-Frutos da Terra), Lucas Aroaldo Dantas Cavalcante, teve a oportunidade de conhecer os agricultores orgânicos da OCS-CSS.

“Nossa Feira da Agricultura Familiar em Aracaju é de base agroecológica, mas em dois novos locais que vamos implantar, serão feiras restritas só a fornecedores orgânicos e para tal, precisamos de mais produtores catalogados. Agora, fechando o ciclo de visitas, vamos finalizar o relatório e determinar quais grupos de agricultores está capacitado para fornecer os produtos orgânicos. A PMA cedeu os espaços físicos no Parque Augusto Franco (Sementeira) e no pátio do Museu do Mangue, localizado no Bairro Coroa do Meio e a Seides entra com a estrutura e os comerciantes orgânicos”, explicou o agrônomo Lucas Aroaldo.

Produtor orgânico do Piauí e que já comercializa na Feira da Agricultura Familiar em Aracaju, é Delfino Batista. Ele conta que a criação desta feira exclusiva, para produtores orgânicos certificados, é uma reinvindicação antiga do seu grupo e agora vê com ânimo a parceria entre PMA e a Secretaria. “A intenção é boa e já tínhamos conversado com a Seides sobre isso. Garanto a procedência dos meus produtos orgânicos e não tenho nada para esconder. Recebo sempre os repórteres para mostrar a minha produção, pois sei que estou seguindo as recomendações para continuar dentro da OCS e vender em uma feira só de orgânicos”, avalia ele que também vende quinzenalmente no pátio da Cohidro, na capital e atua em mais 3 feiras em Lagarto.

Outra feira orgânica que tem pretensão de voltar a acontecer será a realizada pela Prefeitura de Lagarto. O diretor de Desenvolvimento Rural da Semader, Adelino Barbosa, acompanhou a visita da CPOrg-SE e comenta o interesse da Administração Municipal no cultivo agroecológico. “Queremos, em parceria com a Cohidro, reativar a feira orgânica de Lagarto. Além disso, temos um projeto de manter hortas comunitárias nas escolas da rede municipal”, disse, explicando que a intenção é a de reforçar a merenda escolar nas unidades de ensino e também criar hábitos alimentares saudáveis nos estudantes, aliados a conscientização da ecologia na agricultura.

Última atualização: 6 de maio de 2021 18:10.