Na Semana dos Orgânicos, irrigantes da Cohidro dão exemplo em Lagarto

Meio a Semana dos Alimentos Orgânicos (SAO) agricultores orgânicos assistidos pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), no Perímetro Irrigado Piauí em Lagarto, dão lição de cidadania: produzem alimentos livres de agrotóxicos, colaboram uns com os outros, fazendo visitas coletivas pra troca de experiências, e agora estão se organizando para realizar mutirão no início de junho.

Pacheco, Tal, Delfino e seu irmão Raimundinho

Eles fazem parte da Organização de Controle Social do Centro-Sul Sergipano (OCS-CSS), grupo em que os membros são cadastrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), dando permissão para que possam comercializar seus produtos orgânicos diretamente ao consumidor, em feiras livres ou na própria lavoura. Segundo a Gerente do Perímetro Piauí, Gilvanete Teixeira, os agricultores estão agora se organizando para compor um Sistema Participativo de Garantia (SPG), modalidade que permite também a venda para atacadistas e supermercados.

Gilvanete já vislumbra a continuidade da iniciativa do escritório da Cohidro em Lagarto, de aproximar estes produtores da OCS.“Agora, toda terça-feira fazem visitas em grupo e na primeira terça de junho eles vão fazer um primeiro mutirão no sitio de Tal (José Edmilson dos Santos), para trabalhar em seu lote. Na outra terça vão para outro lote, repetindo todo ciclo depois de dois meses”, colocou a Gerente do Piauí, que avalia ser bastante positivo este movimento de união dos produtores.

“A gente vê que esta troca de experiências deles vai acontecer de duas formas: na teoria, pela observação e dicas dadas uns aos outros, e na prática, um aplicando suas técnicas de manejo orgânico na plantação do outro, quando ocorrerem os mutirões. A ajuda vai muito além da força, pois cada um tem tanto o que ensinar quanto aprender”, completou a Gilvanete Teixeira, destacando do que a ideia do mutirão foi uma iniciativa dos agricultores.

Conhecimento

Tal já é produtor orgânico já há 15 anos, atualmente produz em seu lote alface, coentro, cebolinha, couve, rúcula, brócolis, couve-flor, macaxeira, coentro, feijão de vagem, milho, hortelã e agrião. Para ele, o intercâmbio vai trazer mais conhecimento para os produtores do grupo “Aqui é tudo plantado de maneira orgânica, usando defensivos naturais e tem também a criação de galinha, que produz carne e ovos orgânicos. Visitando, estamos adquirindo mais experiência, aprendendo uns com os outros”, relatou José Edmilson.

Não existe segredo sobre as técnicas que cada um usa em sua lavoura orgânica, tanto que Tal, por exemplo, faz questão de contar como são suas receitas de defensivos e fertilizantes agrícolas alternativos e naturais que usa, a partir de ingredientes como o nim, álcool, alho, variedades de pimenta e urtiga. Ele explica até a receita, de origem japonesa, de captura de microrganismos eficientes (ME) produzidos no arroz cozido e fermentado, que pode ser usado no fortalecimento solo, nas plantas, na água da irrigação e na das criações.

“Misturo pimenta-do-reino, álcool e alho para fazer um bom inseticida pra pulverizar a couve, mas uso também o ‘extrato de nim’ com pimenta malagueta e álcool, como inseticida em todas as plantas. A urtiga bem cortadinha e com pouca água, depois de 30 dias descansando, põe 50 ml misturado em cada 20 litros de água para pulverização. O arroz cozinha com água e sem sal, enterra por 15 dias numa garrafa pet, lava e põe pra fermentar por mais 15 dias num tonel com respirador mergulhado num balde com água”, detalhou o agricultor Tal.

Guardião de sementes

Dos mais experientes e havidos produtores orgânicos do Piauí, João Pacheco conta que já cultiva, por exemplo, o hábito de conservar e trocar sementes há algum tempo, uma forma de intercâmbio que realiza até com os colegas orgânicos de outras praças. “Eu tenho uma semente de feijão preto que inclusive já foi plantada lá no Perímetro (Califórnia) de Canindé de São Francisco e está se dando bem lá. Foi uma semente crioula que adquiri, na visita que fizemos a Embrapa de Petrolina (PE)”, informou.

Para Mardoqueu Bodano, presidente da Cohidro o conhecimento será a nova fronteira agrícola a ser transposta neste Século. “São nessas coisas simples, fáceis de fazer, que está toda a diferença na qualidade dos alimentos que são produzidos. É essa tecnologia de baixo custo que os agricultores orgânicos usam e compartilham, uns com os outros, que pode baratear os gastos não só para plantar, mas diminui o preço alto que se paga, quando não respeitamos a sustentabilidade ambiental, preocupação que todos nós devemos ter”, completou.

Sala de aula

Sua lavoura já foi, muitas vezes, usada como sala de aula para ensinar os estudantes das instituições de ensino superior de Sergipe que tem cursos na área agrícola. Delfino Batista planta e vende muitos produtos orgânicos nas três feiras de Lagarto, na Feira da Agricultura Familiar de Aracaju e ainda, toda semana, está na sede da Cohidro trazendo seus produtos agroecologicamente cultivados, que são comercializados com os servidores.

“Tenho maracujá, quiabo, banana, macaxeira, milho, coentro, rúcula, espinafre, couve,repolho, pimentão, tomate, tudo orgânico”, relacionou Delfino que também tem sua receita de fertilizante natural que aplica em suas hortaliças, o segredo para a vistosidade dos seus produtos que muitos já conhecem. “É bem simples: ponho o mato, nascido solto, em qualquer lugar, com esterco fresco e deixo num tambor por 60 dias. O líquido que sai desta mistura pulverizo na fração de um litro pra cada 20 litro de água”, explicou.

Mais receitas

Raimundo Batista do Nascimento é outro experiente produtor orgânico do Perímetro Piauí que tem, como carro-chefe, a produção de Bata-doce, maracujá, mandioca, macaxeira e coentro. Ele também não fica para trás na inovação, com sua receita de fertilizantes. “É o ‘biogel’. Pega castanha-de-caju, pisa e bota com álcool. Em 15 dias coa e pulveriza na lavoura com água”, explicou o agricultor que também já usava a pimenta malagueta com álcool e nim, de Tal e o esterco com terra e mato, de Delfino.

João Quintiliano da Fonseca Neto, Diretor de Irrigação da Cohidro, reconhece o empenho dos produtores em buscar se aperfeiçoar no cultivo agroecológico, mas sem deixar de lembrar da contribuição dos técnicos e agrônomos da Companhia. “Nosso pessoal faz visitas frequentes aos lotes familiares, passando toda orientação técnica da melhor forma de plantio, estimulando a conversão para a agricultura orgânica, que tem um forte potencial na agricultura familiar nos nossos perímetros”, explica, ressaltando que a Empresa também arca com as despesas de manutenção e de operação dos Perímetros irrigados.

SAO

Amanhã, 28, como parte da programação da Semana de Orgânicos, organizada pelo MAPA, ainda acontece palestra sobre a “Situação e potencialidades da produção de orgânicos”, o V Simpósio Brasileiro Pós-Colheita de Frutas, Hortaliças e Flores e o VIII Encontro Nacional Sobre Processamento Mínimo de Frutas e Hortaliças, no Mercure Aracaju Del Mar Hotel, às 10h.

 

Ascom/Cohidro com informações do MAPA

Última atualização: 12 de dezembro de 2017 10:55.