Irrigação Pública Estadual influencia maioria dos itens da cesta básica de Aracaju

Itens da cesta básica da capital sergipana foram considerados os mais baratos dentre as 17 capitais avaliadas em todo país. Batata inglesa não é pesquisada no Norte e Nordeste; macaxeira, batata-doce e inhame são substitutos produzidos nos perímetros da Cohidro

 

José Francisco [foto: Paulo Ricardo]
Cotados em dezembro de 2021 no valor de R$ 478,05, os itens da cesta básica que tem seus preços pesquisados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em Aracaju, foram considerados os mais baratos dentre as 17 capitais avaliadas em todo país. Essa avaliação positiva ocorre desde agosto, sendo que de janeiro a março do último ano, a capital sergipana também foi a que teve o custo de alimentação mais baixo. A irrigação pública, fornecida pelo Governo do Estado em seus seis perímetros irrigados, influencia nos preços de sete, dos 12 itens pesquisados no Norte e Nordeste: banana, tomate, leite, farinha de mandioca, açúcar, manteiga e carne bovina. Isso sem contar com os produtos, colhidos nos perímetros, que servem como substitutos aos que são pesquisados.

Os lotes atendidos com irrigação e assistência técnica agrícola pela subsidiária da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), a Cohidro (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e irrigação de Sergipe), produzem diretamente o tomate e a banana; colhem a mandioca e a cana, que são matérias primas para a farinha e o açúcar; e também fornecem uma grande variedade de grãos, folhas e restos culturais que servem de ração animal para produzir leite, seu subproduto manteiga e a carne bovina. “Temos o Perímetro Irrigado Jabiberi, em Tobias Barreto, que é praticamente todo voltado à produção de proteína animal, a partir da produção irrigada de material forrageiro. Tem lote com tanques de piscicultura, criatórios de ovinos de corte, mas a maioria investe em gado de leite”, destacou o diretor-presidente da Cohidro, Paulo Sobral.

José Francisco planta a banana em seu lote em Riachuelo, irrigado pelo perímetro Jacarecica II. Sem agrotóxico, garante ele. “Tenho a banana pão, a maçã e tenho a prata. A produção é boa, eu tiro por semana, da prata, 40 caixas. Agora no verão eu chego a tirar 50 a 60 caixas por semana. Vai tudo para o mercado do [bairro] Augusto Franco, em Aracaju. Eu vendo na minha banca e um pouco eu boto para a Coopersus (Cooperativa de Produtores Orgânicos de Sergipe). A irrigação é a parte fundamental, sem a água não vai para frente”, esclarece.

Para colher o tomate, que está na pesquisa da cesta básica, é necessário ter boa irrigação e pouca chuva, conforme explica o produtor irrigante Gilvan Fontes. “A irrigação é na mangueira no gotejo, porque se colocar a água por cima, já entra a lagarta-minadora, que anda na folha. Daí tem que combater, porque se não ela risca o fruto e para o comércio, não é bom mais. Na minha área, sempre tem algum que morre, mas foram plantados 3.500 pés. Sem irrigação não tem cria, tem que ter irrigação”, avalia o agricultor com lote irrigado pelo perímetro Piauí, em Lagarto.

Segundo João Fonseca, diretor de Irrigação da Cohidro, os perímetros irrigados produzem também substitutos dos alimentos pesquisados na avaliação mensal do custo da cesta básica. “Em todas as capitais é pesquisado o preço dos feijões carioquinha ou preto, mas nos perímetros irrigados tem produção do feijão-de-corda e de feijão de arranca, que adequadamente servem como substitutos na dieta do sergipano. Por outro lado, há uma infinidade de variedades de batatas-doces, inhames e de macaxeiras sendo produzidas nos lotes assistidos e irrigados pela Cohidro. Estes, não são itens pesquisados na cesta básica, mas são os principais substitutos da batata inglesa, que tem produção irrelevante no Norte e Nordeste e por isso, acaba não sendo pesquisada pelo DIEESE nestas regiões. Portanto, se forem levados em conta a utilização destes produtos, a influência da irrigação pública é ainda maior”, conclui.

Irrigação pública estadual influencia na maior parte dos itens da Cesta Básica mais barata do Brasil

Irrigantes do Perímetro de Lagarto produzem esterco e forragem, abastecendo municípios do entorno

Gilvan e as batatas-doces, que tem as ramas utilizadas na alimentação animal [Foto: Gabriel Freitas]
Além de tomate, mandioca, banana e cana-de-açúcar, que influenciam diretamente nos preços que fazem de Aracaju a capital com a Cesta Básica mais barata do Brasil por quatro meses seguidos, a irrigação pública dos perímetros estaduais também produz forragem para bovinos. Com a adição do leite, da manteiga dele derivada e da carne bovina, sobe para sete o número de alimentos da cesta básica, cuja produção é favorecida pela irrigação estadual, dentre os 12 pesquisados mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). No Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e irrigação de Sergipe (Cohidro) em Lagarto, há os criatórios que produzem sua própria ração, os que vendem capim de corte, forragem de milho, ramas de batata-doce e esterco até para produtores fora do perímetro, promovendo a ‘Integração Irrigado-Sequeiro’.

Gilvan Lima reserva um hectare de seu lote, no perímetro Piauí, para a produção contínua dos capins de corte das espécies palmeirão, roxo e elefante, para alimentar 10 cabeças de boi de engorda e 17 vacas de leite. A ração dos animais é composta da mistura de capim, palhada e espigas de milho e restos culturais, como o pé da mandioca – chamado por eles de ‘manaíba’. “É tudo do plantio que eu faço. O milho, quando eu não coloco verde picado, com espiga e tudo, eu moo o grão de milho seco junto com o capim”, explica o produtor rural. Para ele, a chegada do perímetro abrangendo sete povoados de Lagarto modificou toda a forma de produzir. “Antes, era complicado, mas depois da irrigação foi outra coisa. Planto o milho, planto o capim. Até a rama da batata-doce se aproveita para o gado. Antes do perímetro, só tinha capim no inverno. Tinha que dar tudo contado e comprar fora o farelo”, lembra.

Segundo o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Fonseca, o excedente do plantio de capim, somado a todo milho para silagem e restos culturais gerados nos 421 lotes do perímetro de Lagarto, suprem um mercado consumidor de ração animal e outros insumos, bem maior que os 14,5 km² do perímetro Piauí. “Em Sergipe, 29 municípios são considerados pela Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) como de clima semiárido, em que o déficit hídrico é muito grande, prejudicando a atividade agrícola na maior parte do ano. Por isso, em nossos seis perímetros incentivamos, além do produto in natura, a produção de espécies vegetais para alimentação animal, que o agricultor possa comercializar o excedente com o mercado do entorno dos perímetros”, defende.

A pecuária dentro do perímetro irrigado é uma prática paralela à agricultura, que muito se aproveita desta oferta de água para a produção da ração, como afirma o gerente do Piauí, Gildo Almeida. “Tem entre 15 e 20 produtores que usam o capim de corte para sustentar suas criações de gado, e tiram o sustento da venda das cabeças de gado de corte, do leite e do esterco”, conta. Segundo ele, é no verão que se torna mais importante a oferta de água para a pecuária, suprimindo a falta de pastos verdes. “Usam o capim e a palhada do milho para fazer silagem e sustentar o gado nesta época de estiagem. Muitos fazem o confinamento, para abate; mas a maioria é para produção de leite”, conclui Gildo.

Para Gilvan, compensa plantar capim. “No verão, quem tem um capim verde, ganha dinheiro. Pois se não tem gado, vende o capim. Quando tem capim de sobra no inverno, eu dou para os vizinhos que têm criação. Porque se o capim ficar muito velho, é ruim. É melhor tirar, adubar e plantar de novo”, ensina o irrigante. Em seu lote, criando gado, o número de produtos só aumenta. Vai do leite, que vende para um atravessador; até o adubo natural, indispensável para a produção agroecológica. “O esterco eu vendo também, para quem não gosta de usar agrotóxicos e adubos químicos. É muito bom adubar com o esterco no verão. Eu mesmo uso no capim de ração, no cultivo do milho e na batata-doce italiana e roxinha”, finaliza.

Produção de perímetros irrigados contribui para Aracaju ter cesta básica mais barata

Grande oferta de itens como tomate, mandioca, leite e banana mantém cesta aracajuana como a mais acessível do país desde junho

Banana produzida no perímetro Jacarecica II [Foto: Ascom/Cohidro]
Desde janeiro de 2018, Aracaju se mantinha como a capital brasileira com o segundo menor valor da cesta básica de alimentos, entre as 20 cidades pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ficando atrás somente de Salvador. Mas o resultado obtido pela Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) no último mês de junho colocou a capital sergipana em primeiro lugar, com uma queda de -6,14% em relação a maio, quando o preço médio da cesta básica foi praticado em R$ 383,09. Em julho, a primeira colocação foi mantida com mais uma queda de 6,04% nos preços: R$ 359,95. Entre os 12 itens pesquisados em Sergipe, metade tem produção originada, direta ou indiretamente, nos perímetros irrigados do governo do Estado.

Os perímetros são administrados pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – Cohidro. Pelo segundo mês, em Aracaju foi destaque a redução no preço da banana (-14,86% em julho), com produção encontrada nos perímetros irrigados Califórnia [Canindé de São Francisco], Jacarecica II [entre os municípios de Areia Branca, Riachuelo e Malhador] e Piauí [Lagarto]. Outro preço que caiu foi o do tomate, produzido nos perímetros Piauí, da Ribeira [Itabaiana] e Califórnia. Integram, ainda, a cesta básica nordestina a farinha de mandioca, produzida no perímetro Piauí; o leite, nos perímetros irrigado Jabiberi [Tobias Barreto] e Califórnia; e a partir dele, a manteiga.

Para o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Fonseca, a garantia de fornecimento de água para irrigação favorece a produção nos perímetros. “É possível produzir o ano inteiro, pois o sistema de irrigação só é desligado em dias de chuva. Dessa forma, os produtores podem assumir compromissos de fornecimento em qualquer época”, explica João, que também destaca a contribuição dos perímetros para um sexto item da cesta básica: a carne de primeira. “Todos os perímetros irrigados produzem algum material para consumo animal, como os ramos da batata-doce e da mandioca, a manipueira [líquido excedente do beneficiamento da mandioca] e o milho verde, que se usa o pé inteiro com as espigas ou a só a palhada. Tudo isso serve para a alimentação do gado de leite – e também de corte”, pontua.

Banana
A bananeira requer, segundo o técnico agrícola da Cohidro em Lagarto, Marcos Emílio Almeida, uma média pluviométrica anual de 1.600mm, índice de precipitação que a maioria dos municípios sergipanos não possui. “São basicamente 5mm ao dia e, então, a irrigação vem a suprir esse déficit hídrico. Dessa forma, a produção plena da banana no estado só é possível com o uso de água de irrigação”, aponta. O mesmo técnico acompanhou a introdução de um campo piloto da variedade ‘prata anã’ no perímetro Piauí.

“Rendeu bem a primeira colheita, mas tivemos que aumentar o número de microaspersores”, relatou o agricultor irrigante Rosendo dos Santos, assistido no perímetro irrigado de Lagarto, constatando a necessidade de boa irrigação para produzir banana no município. Orientado pela Cohidro quanto à escolha de mudas certificadas, correção do solo, método de irrigação e manejo da cultura; o sucesso do bananicultor influenciou outros produtores a investir na variedade prata anã. Hoje são quatro, só no perímetro irrigado Piauí.

Última atualização: 10 de novembro de 2018 15:15.

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