Agricultura orgânica cresce entre irrigantes pela Cohidro em Malhador e Riachuelo

Irrigação pública motiva a produção de hortaliças no Jacarecica II

Agricultura Familiar é aquela onde a mão de obra é em maior parte provida por seus entes; possui até quatro módulos fiscais, suprimindo a mecanização e na maioria dos casos, tem área de plantio anexo às residências. Esses são fatores que por si sós desqualificam o uso de defensivos agrícolas químicos neste modelo, que é o predominante no Jacarecica II. Nesse perímetro da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), a área irrigada abrange Riachuelo e Malhador. Lá tanto existem produtores em processo de transição agroecológica, como orgânicos registrados e até certificados.

Raízes, frutas e folhosos são produzidos a níveis mínimos de agrotóxicos ou nenhum. 11 produtores rurais no Jacarecica II integram um Organismo de Controle Social (OCS), onde um registro feito junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) os qualificam somente a venda direta ao consumidor. Mas dois deles também pertencem a um segundo grupo de produtor orgânico, os que compõem a Associação dos Produtores Orgânicos do Agreste (Aspoagre), também agregada por agricultores dos perímetros da Cohidro em Itabaiana. Por meio dessa segunda entidade, eles têm sua produção orgânica garantida pelo selo da IBD-Certificações, permitindo assim a comercialização no mercado atacadista.

Diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrário da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, reconhece que em todos os perímetros da Companhia que são voltados à agricultura, há grupos de agricultores se convertendo aos métodos agroecológicos. “O natural é que conforme eles fossem progredindo em suas áreas plantadas, recebendo irrigação contínua e assistência técnica da Empresa, eles fossem adquirindo o potencial para inovar. O cultivo orgânico tanto oferece vantagens, por rentabilizar melhor os produtos, quanto evita os riscos causados com a contaminação de quem trabalha e consome esses alimentos”, disse.

Essa está sendo a visão do produtor José Carlos de Andrade, agricultor de Riachuelo que produz em seus dois hectares irrigados no Assentamento Colônia Penha. Lá ele cultiva Couve, Cenoura, Quiabo, Coentro, Amendoim, Alface de vários tipos e Pimentão. Embora ele ainda lance mão aos agrotóxicos, ele tanto tem a preocupação de respeitar os prazos de carência dos produtos como também só usa em último caso. “A última vez que usei foi numa plantação de couve anterior a esta de agora, quando ela estava novinha deu um ‘fogo’, que sapeca a parte trás da folha”, admitiu.

A intenção de José Carlos é se tornar um produtor orgânico registrado e para isso, já toma atitudes visando a sua conversão de método produtivo. “De vez em quando eu dou uma passada de um preparado de Nim e urina de gado, o que evita o uso de veneno”, informou o agricultor, sobre a planta em que o extrato de suas folhas serve de inseticida natural e que é usada massivamente nos cultivos agroecológicos. O agricultor sente a necessidade da mudança quando vende seus produtos em feiras de Riachuelo e de Itabaiana. “Às vezes perguntam, tem gente procurando sempre, gente que quando descobre que não é orgânico desiste de comprar. Por isso a gente procura essas alternativas”, completou.

José Jenaldo Oliveira é o Técnico Agrícola da Cohidro que atende José Carlos. Ele acredita no que diz o produtor, porque ele consulta a assistência técnica da Empresa nesses casos, em que vê ser necessária a aplicação de defensivos. “Ele aqui é um dos melhores produtores, pela quantidade que produz e pela facilidade em que assimila nossas explicações. Não dá trabalho algum”, resumiu, considerando que no Jacarecica II são muitos outros produtores procurando um direcionamento mais voltado a agricultura orgânica, mesmo não possuindo registro junto ao MAPA ou uma certificação autônoma.

Para o presidente da Cohidro, Mardoqueu Bodano, a Empresa tem oferecido tanto os canais corretos para o produtor usar o agrotóxico, quanto à disponibilidade para a conversão agroecológica. “Seja usando veneno ou virando produtor orgânico, os técnicos da Companhia estão disponíveis ao atendimento direcionado. Mas se tratando do método mais seguro e rentável para as pequenas produções, é óbvio que o empenho de nossas equipes tem sido incentivar a produção livre de agrotóxicos, intercedendo por eles junto aos órgãos reguladores e dando a instrução correta aos grupos de orgânicos que vem se formando nos perímetros Irrigados”, confirmou.

Veteranos

Na Associação de Pequenos e Médios Empreendedores Rurais de Produção e Comercialização de Orgânicos do Município de Malhador (APM-Cultiva) são 14 integrantes do Assentamento Grupo dos 20 que participam, 11 deles referendados legalmente para a venda de produtos orgânicos. José Luiz dos Santos é produtor certificado pelo IBD e coordena as vendas na Feira Sobre Rodas, ônibus adaptado que atualmente vende, todas às quintas-feiras, aos funcionários das duas unidades da Petrobras em Aracaju. “Hoje sou responsável por fornecer os folhosos para a feira volante, mas temos também frutas e tubérculos orgânicos. Em breve vamos voltar a ficar um dia por semana no Shopping Riomar, assim que eles terminarem as reformas. Vamos ter até um local exclusivo para nós lá”, anunciou.

Adquirido através do Edital de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais (APL) de Baixa Renda, da Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e Assistência Social, do trabalho, dos Direitos Humanos e Juventude (SEIDH), o veículo da APM-Cultiva tem como foco a venda em pontos estratégicos da capital Aracaju. Segundo o Gerente do Jacarecica II, Osvaldo de Oliveira Andrade, a irrigação da Cohidro tem possibilitado o cultivo de hortaliças, raízes, frutas e grãos pelos métodos orgânicos no Perímetro. “Os integrantes da Entidade cultivam no método orgânico melancia, maracujá, mamão, laranja, inhame, verduras e vendem nessa feira itinerante”, relatou.

Dernival Lima de Oliveira é um dos produtores orgânicos do Grupo dos 20. Ele explica que no APM-Cultiva, todos compartilham a responsabilidade com a qualidade dos alimentos produzidos pelo grupo e não só com a sua própria plantação. “Com a irrigação, produzo milho e macaxeira uma tarefa cada um, duas de inhame e parceria em mais uma tarefa de laranja, tudo orgânico. Dentre as medidas para garantir que o produto seja orgânico, temos um minhocário e usamos a adubação biológica com o ‘Biogeo”, relatou ele sobre o preparado fermentado com esterco animal e restos culturais.

Seidh doa 10 barracas para feira de irrigantes orgânicos pela Cohidro

Barracas matálicas servirão para a venda de produtos orgânicos no Mercado Municipal de Canindé

Quinta-feira, 20, os agricultores irrigantes da Associação Sergipana de Orgânicos (Bio5), receberam 10 barracas padronizadas, enviadas pela Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh). Constituem a da Bio5, agricultores orgânicos instalados no Perímetro Irrigado Califórnia, administrado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), sendo que a entrega se deu na sede da unidade da Empresa, em Canindé de São Francisco.

Desta forma, serão mais 10 agricultores orgânicos participando de uma Feira da Agricultura Familiar (FAF), desta vez em Canindé. Estes eventos são organizados pela Seidh em diversas cidades do interior de Sergipe, mas até o momento, as únicas com base agroecológica, eram as realizadas quinzenalmente, na capital Aracaju. Mas a partir de agora e devido ao nível organizacional que se encontra a Bio5, a turística cidade do Alto Sertão também vai contar com um ponto de venda, que privilegie a comercialização de alimentos produzidos livre do uso de agrotóxicos.

Tal benefício concedido a estes agricultores se fez possível depois deles receberem uma visita da Secretária de Estado Marta Leão, no último dia 11. A titular da Seidh fez questão de ver de perto o trabalho que estava sendo feito pela Bio5 de Canindé. Para ela, é um compromisso do Governo do Estado, promover ações que privilegiem a produção orgânica, que exige do agricultor mais dedicação do que nos cultivos tradicionalmente feitos com defensivos industriais.

“Esses agricultores enfrentam muitas dificuldades na concorrência com os alimentos produzidos de forma tradicional. Então, o Governo de Sergipe estende as duas mãos a estes produtores, oferecendo capacitações, orientações técnicas e abrindo editais, como o que possibilitou a aquisição de um caminhão baú refrigerado pela Associação de Agricultores Orgânicos do Agreste (Aspoagre)”, colocou a secretária Marta Leão, em referência ao veículo adquirido com recursos Estaduais e do BNDES.

Já o Presidente da Cohidro, Mardoqueu Bodano, agradeceu a ajuda bem-vinda à agricultura orgânica de Canindé, em nome dos irrigantes beneficiados. “A Seidh é parceira nossa de longa data, seja através do espaço que oferece aos nossos agricultores, nas FAFs em todo Estado. Ou através de outras iniciativas, como o Programa de Recuperação de Pequenas Barragens, onde juntas, Seidh e Seagri (Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca), através de nossa Companhia, já reformaram 1.865 aguadas destinadas à dessedentação dos rebanhos, sendo 15 delas comunitárias e de médio porte”, confirmou.

A Bio5

Fundada há cerca de dois anos, sob tutela da Cohidro e acompanhada de perto pelo Técnico Agrícola da Empresa, Tito Reis, a Bio5 integra 20 agrofamílias, sendo que seis delas formam uma Organização de Controle Social (OCS), que depois de ser registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), teve a autorização federal para a venda direta de produtos agrícolas sob a titulação de orgânicos.

“Assim, com estas novas barracas e agora integrando uma nova FAF, estes agricultores pleiteiam aumentar o número de produtores agroecológicos e querem ocupar um espaço no Mercado Municipal de Canindé, que a Prefeitura acenou estar disposta a conceder”, informou o Técnico Tito.

Segundo a presidente da Bio5, Rosângela Oliveira Andrade, existem poucas restrições para que os agricultores, irrigantes no Perímetro Califórnia, possa fazer parte da Associação, mas elas precisam ser levadas à risca. “Hoje a única restrição que fazemos é de que não aceitamos o trabalho individual, pois o grupo trabalha com a Agricultura Familiar, então é necessário que esta família esteja interessada em praticar a agricultura orgânica”, expôs.

Edmilson Cordeiro, Gerente do Califórnia, apóia as iniciativas dos agricultores em se organizar dentro do pólo de irrigação da Cohidro. “Se há disposição dos membros do grupo em trabalharem juntos, contem com nosso apoio para se organizarem. Hoje temos o trabalho desses produtores que souberam se organizar e estão de parabéns, mas quero deixar claro que isso não é algo exclusivo para eles e estamos aqui, de portas abertas, para todas as entidades que existem dentro do Perímetro ou que venham a ser formadas.”, informou.

Cohidro presente no Encontro de Agricultores Orgânicos de Sergipe

A Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) esteve presente no Encontro de Agricultores Orgânicos de Sergipe, representada pelos seus irrigantes e técnicos. O Evento aconteceu nesta sexta-feira, 22, no Instituto Federal de Sergipe (IFS) no Campus de São Cristóvão. Com a cooperação do Sebrae e apoio da Cohidro, a Instituição reservou este dia para reunir e motivar a troca de experiências entre os produtores e fez parte da “III Semana de Agroecologia”, que desde o dia 20, vinha realizando palestras, debates, oficinas e minicursos, voltados aos acadêmicos, técnicos e agricultores.

Presidente da comissão organizadora da III Semana, a Professora Msc. Marisa Borin da Cunha revelou que o Encontro de Agricultores ocorreu dentro das expectativas de público e alcançou seus objetivos. “Dentre agricultores, técnicos e estudantes que também tiveram interesse de participar, foram cerca de 70 pessoas. A intenção era de que os produtores orgânicos tivessem espaço para expor suas experiências, suas conquistas e reivindicar – aos representantes dos órgãos públicos presentes – suas necessidades. Pela quantidade desses produtores que vieram dar seus relatos e o outro quantitativo que se dispus a fazer perguntas, acreditamos que conseguimos. Nos demais dias de evento, participaram das atividades outros 185 inscritos”.

Mardoqueu Bodano, presidente da Cohidro, considerou bastante produtiva a participação da Cohidro no evento realizado pelo IFS e Sebrae, garantindo que a Companhia está sempre disposta a colaborar e participar de eventos do setor agrícola. “Se buscam beneficiar e levar a experiência para o produtor orgânico e a agricultura familiar, estão caminhando para o mesmo rumo tomado por nós, que temos como principal foco contribuir com o pequeno produtor. Esta conversão do uso do agrotóxico na produção convencional, para o método agroecológico é uma briga já comprada por nós há algum tempo em nossos perímetros irrigados, onde frequentemente novos produtores aderem à ideia por meio do incentivo de nossos técnicos e agrônomos”.

PAIS

Pela manhã, o Encontro foi destinado a exposição de resultados e debate sobre o projeto de Produção de Alimentos Integrada e Sustentável (PAIS) do Sebrae, que forneceu os kits para a montagem de 300 unidades em todo Estado, 99 destes em cooperação com a Cohidro, nos lotes de produtores alocados nos seus perímetros irrigados. Maria Terezinha Albuquerque é quem coordena o Projeto na Companhia de Irrigação. “Baseado em sistema de produção agroecológico e voltado à agricultura familiar, o PAIS tem todos os requisitos para o cultivo de alimentos orgânicos e corresponde ao método adotado pela maioria dos produtores do gênero em Sergipe”, revelou.

José Raimundo Pereira de Matos é técnico agrícola da Cohidro no Perímetro Irrigado Piauí, em Lagarto e trouxe ao Evento os agricultores irrigantes Delfino Batista e João Pacheco, dois dos mais bem sucedidos produtores orgânicos que atuam nesta unidade da Companhia. “Aqui eles podem trocar conhecimento, as experiências que deram certo e que tem resultados diferentes de região para região no Estado. Em Lagarto, por exemplo, o que mais deu certo foi adaptar o PAIS para a produção de galinhas caipiras. Fomos os primeiros a receber os kits, como já fazem mais de quatro anos, as galinhas de postura originais já foram substituídas por estas raças mais rústicas e apresentaram bons resultados”.

Delfino Batista deu seu relato – no Encontro – de como se sucedeu essa adaptação do PAIS a sua realidade no Perímetro Piauí. “Crio perto de 100 galinhas caipiras, por isso eu e outros produtores tivemos que aumentar o galinheiro do PAIS, em alvenaria, para também evitar os roubos. Não é mais aquele galinheiro redondo rodeado pelos canteiros, mas segue o mesmo estilo: o adubo servindo para horta que depois ajuda a alimentar as galinhas”, conta o produtor que também integrou a plantação a criação de ovelhas. Um dos pioneiros, ele cultiva alimentos orgânicos e vende em feiras agroecológicas em Lagarto e na capital Aracaju, inclusive na sede da Cohidro.

OCS

Organização de Controle Social (OCS) é o instrumento criado, por Decreto Federal, que elimina a necessidade dos pequenos produtores orgânicos terem que arcar com os altos custos dos institutos de certificação orgânica. André Barretto Pereira é coordenador da Comissão de Produção Orgânica de Sergipe (CPOrg-SE) e chefe da Divisão de Política e Desenvolvimento Agropecuário do Mapa. Ele expos os dados de que já são 20 OCS em Sergipe, presentes em 16 municípios e compostas por 228 produtores orgânicos. A mais nova delas é a BIO5, formada por agricultores irrigantes da Cohidro no Perímetro Califórnia, em Canindé de São Francisco que já estão cadastrados no Mapa e recebem seus certificados na próxima quinta-feira, 28, em cerimônia na Secretaria de Agricultura do município, a partir das 9 horas.

Presidente da BIO5 e representando os agricultores orgânicos do Perímetro Califórnia, Marli Soares dos Santos Pereira reiterou, no Encontro, o apoio da Companhia de Irrigação para o surgimento da nova OCS em Canindé. “A Cohidro está sempre lá contribuindo com a gente, com a presença dos técnicos, como Tito Reis, Terezinha Albuquerque e a Drª. Sônia Loureiro. Não imaginava que existia esse apoio como o da Cohidro nos dando o ‘sombrite’ para construir nossas estufas, que todos nós já temos para produção de mudas e construídas por meio de mutirões entre produtores”, relatou.

III Semana de Agroecologia

Na quinta-feira, 21, 15 agricultores irrigantes, alocados no Califórnia, em Canindé participaram – dentro da “III Semana de Agroecologia” – do minicurso “Criação de Galinhas Caipiras”, ministrado pelo Professor Dr. Claudson Oliveira Brito, da UFS. O técnico agrícola da Cohidro, Tito Reis foi quem promoveu a vinda destes produtores, tanto neste dia como ao Encontro de Produtores na sexta-feira, quando também relatou um pouco da sua atuação para formação da OCS no Perímetro. “Atualmente auxiliamos os produtores da BIO5 à compra de alguns equipamentos para medir a acidez e condutividade elétrica do solo e da água de irrigação, para quando haver necessidade, ser feita a devida correção do PH por formas alternativas e agroecológicas”, expôs.

Aspoagre

Manuel Messias, conhecido como Seu Lelé, pratica a agricultura utilizando métodos agroecológicos desde 1985 em sua propriedade atendida pelo Perímetro Irrigado da Ribeira, em Areia Branca. Essa experiência contou muito para a formalização, em 2006, da Associação Dos Produtores Orgânicos do Agreste (Aspoagre), que reúne ainda produtores de Itabaiana e Malhador, instalados no Perímetro Jacarecica II, também da Cohidro. Para o agricultor, que por meio da Entidade tem sua produção orgânica garantida em instituto certificador, nunca é demais buscar experiências em encontros como o realizado pelo IFS.

Última atualização: 29 de novembro de 2018 13:28.

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