Fertirrigação cresce em perímetro de Lagarto ao atender diversas culturas

Tomate, milho, amendoim, pimenta, repolho, mamão e quiabo aceitam bem a técnica. Orientação dos técnicos agrícolas da Cohidro viabiliza o uso de fertilizante diluído na água de irrigação.

 

Sistema de microaspersão fertirrigada foi aplicado à banana – Foto Fernando Augusto (Ascom Cohidro)

A fertirrigação é uma técnica de adubação aplicável à irrigação contínua e localizada, onde os nutrientes necessários ao crescimento das plantas seguem diluídos na canalização da água e são aplicados, geralmente através dos sistemas de irrigação por microaspersão ou gotejamento, diretamente ao solo para a absorção pelas raízes. Por obter melhor resultado e aproveitamento integral dos fertilizantes, além da diminuição de mão de obra para aplicar esses insumos, o método tem encontrado cada vez mais adeptos no Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e irrigação de Sergipe (Cohidro), em Lagarto.

Cresce também a variedade de cultivos agrícolas em que a fertirrigação tem encontrado aceitação. Onde antes era mais aceito pelo tomateiro, principalmente quando associado ao sistema de cultivo protegido por lonas ‘mulching’, passou a ajudar às plantações de milho, do amendoim, das bananeiras, do mamão Havaí e agora até está contribuindo com o crescimento dos tradicionais quiabeiros. Por ter uma apreciação culinária mais restrita ao Norte-Nordeste brasileiro e regiões da África, continente onde teve origem, até hoje o cultivo do quiabo pouco teve relevância no campo de desenvolvimento de tecnologias agrícolas, mas a planta tem se adaptado bem ao novo sistema adotado pelos agricultores irrigantes de Lagarto.

Para Carlos Melo, diretor-presidente da Cohidro, a tendência é de que a agricultura praticada nos perímetros de irrigação pública se aprimore por conta própria, a partir das garantias oferecidas pelo Estado ao produtor. “Podendo contar com a água certa e regular em seus lotes, uma garantia de que irão colher aquilo que plantarem em qualquer tempo, só resta ao agricultor investir em tecnologias que melhorem o rendimento produtivo de suas áreas agrícolas, trazendo mais retorno financeiro, revertido em qualidade de vida para as famílias que dali dependem para o sustento. Não podemos deixar de destacar o papel dos nossos técnicos, que incentivam o uso de novos conceitos e colaboram com o agricultor na aplicação dessas tecnologias”, observa.

Segundo o técnico agrícola da Cohidro no perímetro Piauí, José Américo Alves, o segredo da fertirrigação funcionar em várias espécies vegetais está na dosagem, diferente para cada tipo de planta. “Aqui, o tomate recebe adubo foliar todo dia, já o amendoim ali, duas vezes na semana. Da mesma forma é a quantidade de água: no amendoim é uma mangueira de gotejamento que usa, no tomateiro são duas”, explicou ele, mostrando a diferença dos sistemas implantados em duas roças vizinhas no lote de Renilson de Jesus Araújo. O irrigante atendido pelo técnico plantou 0,33 hectares (ha) de tomate e a mesma área de amendoim com irrigação por gotejo.

Renilson de Jesus Araújo plantou duas áreas vizinhas, cada qual com uma tarefa, de amendoim e tomate com fertirrigação, via sistema de gotejo – Foto Fernando Augusto (Ascom Cohidro)

“Na fertirrigação compensa mais, aumenta a produção, dobrou a quantidade. Aspersor convencional judia a planta e não pega em todo setor da lavoura”, considera Renilson. Sua produção é escoada para compradores em atacado e seu lote tem bastante rotatividade de culturas para sempre ter oferta dos produtos mais procurados. “Vendo por terça (um balde de 12 litros), o amendoim já despencado. Deu 200 terças em uma semana só de colheita. Se tiver área irrigada, planto o ano todo. Aonde tem amendoim, depois vou plantar milho e em outra roça de milho, vou pôr o amendoim. No tomate deu ‘broca’ (Neoleucinodes elegantalis), senão dava 600 caixas em uma tarefa”.

O produtor rural Raimundo Carvalho é outro que, em suas roças, dá preferência ao cultivo do amendoim intercalando outras culturas. “Aqui plantamos 4,5 currais (0,24 ha) do amendoim. De vez em quando planto, aqui depois vai ser repolho, mas em outra roça de milho, vai tirar e então pôr o amendoim fertirrigado, que colhe com 75 dias”, informou o proprietário de lote irrigado também assistido pela Cohidro.

Diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola, o engenheiro agrônomo João Quintiliano da Fonseca Neto diz que o plantio do amendoim contribui com a renovação do solo, para aproveitamento em outras culturas. “Ajuda na manutenção do solo, na reposição de nutrientes, como o nitrogênio, muito necessário para o desenvolvimento de todo tipo de cultivo que depois venha ocupar aquela área. Mesmo havendo outras culturas capazes de fazer o mesmo trabalho de reposição, o amendoim sempre foi usado por ter boa produtividade em nosso clima, rusticidade e resistência à pragas e mercado certo em Sergipe, onde o amendoim cozido é patrimônio cultural. Agora percebemos mais esta vantagem, de ter excelentes resultados, com aumento de produtividade, utilizando a mesma fertirrigação que era antes adotada para outras culturas”, argumenta.

Banana

Não é só na horticultura que a fertirrigação encontra terreno. A aposta do agricultor irrigante Rosendo José dos Santos, com o plantio inicial de 2.000 pés de banana prata anã, teve bastante repercussão pelos bons resultados que já pôde obter na primeira safra, mas o sucesso muito se valeu do uso da fertirrigação. “Toda semana põe adubo. Adubou, selecionou os filhos (da bananeira), (a cultura) dura por tempo indeterminado. Deu problema de folha secando rápido, mas Marcos Emílio (Almeida, técnico Agrícola da Cohidro) orientou acrescentar fósforo na fertirrigação, mas põe também adubação de cobertura”, assinalou o produtor que vende os cachos para os feirantes da cidade de Lagarto e do Povoado Colônia do Treze, no mesmo município.

A primeira área de bananeira de Rosendo tem 1,3 ano desde que foi introduzida e já terminou sua primeira safra. Uma segunda área, perto de completar um ano de plantio, tem cachos carregados para colher a primeira produção. Nessa outra plantação o agricultor quis melhorar a fertirrigação usada na primeira, optando desta vez pelo sistema de gotejo, para ampliar a área coberta pela água. Somados, são quase 1 ha da variedade prata anã e o produtor ainda vai investir em um terceiro lote, com mais 0,33 ha da variedade pacovam. “Rendeu bem a primeira colheita. Mas teve que aumentar o número de microaspersores. Se cuidar certinho, dura muito tempo. Tiro a primeira, depois de 4 meses dá o outro cacho em outro pé, o filho (broto) substitui o pé mãe”, informou ele, que antes plantava batata-doce e macaxeira, mas agora não volta atrás na opção pela banana.

Embora obtenha resultados que surpreendam, utilizando a fertirrigação, o principal insumo para a planta ainda é a água. A bananeira requer, segundo Marcos Emílio Almeida, uma média pluviométrica anual de 1.600mm, índice de precipitação que a maioria dos municípios sergipanos não possui. “São basicamente 5mm ao dia e então a irrigação vai suprir este déficit hídrico que a planta requer. Dessa forma, a produção plena da banana no estado requer o uso de irrigação”, destacou. O técnico agrícola da Cohidro acompanhou, no ano passado, a introdução deste campo piloto de Rosendo José e agora presta toda a orientação ao agricultor, que quer aumentar o bananal em 30%, plantando a variedade pacovan.

Quiabo

Conforme informa o gerente do perímetro Piauí, Gildo Almeida Lima, o cultivo do quiabo no perímetro irrigado tem aumentado de tamanho a cada ano e agora encontra na fertirrigação mais um fator positivo para continuar o crescimento. “De 2016 para 2017 a área de cultivo cresceu em torno de 20%. Por levar entre 60 e 80 dias para começar a colher e permanecer produzindo colheitas semanais por até 3 meses, os produtores têm optado bastante pelo quiabo, que também tem boa procura nos mercados de Aracaju e Salvador. Por diminuir o número de pessoas contratadas para realizar os tratos culturais, a fertirrigação tem sido uma opção bastante adotada para estas e outras plantações no perímetro”, avalia.

Gildeon Dias dos Reis tem perto de 12 mil pés de quiabo plantados há 90 dias e em plena produção, com a expectativa de chegar às 60.000 unidades colhidas semanalmente. O produtor segue um elaborado cronograma de aplicação de fertirrigação, adubação sólida e ainda plantou em uma área onde antes havia 2 mil pés de pimenta que foram incorporados ao solo. “Com 11.000 pés, tirava 55.000 em toda lavoura. Se não adoecer, espera-se 3 meses de produção. Uso a fertirrigação da fórmula 18x18x18 (nitrogênio, fósforo e potássio) duas vezes em 15 dias e 10x20x20, após 40 dias. Com 60 dias, uma mão de esterco por pé e com 75 dias o 18x18x18 de novo, essas foram as adubações. O terreno está muito adubado e cresce muito. Vai dar 50.000 quiabos selecionados, com a colheita de três meses”, visualiza.

 

Assistidos pela Cohidro propõem mais 354,2 ton. de alimentos à ‘Doação Simultânea’

Propostas de 2018 sendo aceitas pela Conab, PAA via Cohidro superará os R$ 11 milhões pagos aos irrigantes e doará quase 4 mil toneladas de alimentos à mais de 144 mil pessoas.

 

Doação de alimentos in natura é feita às famílias cadastradas pelo Cras municipal – Foto Fernando Augusto (Ascom Cohidro)

Modalidade do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que faz a remuneração justa e garantida da produção rural e destina estes alimentos à famílias em situação de insegurança alimentar e instituições beneficentes; a Compra com Doação Simultânea encontra terreno fértil nos perímetros irrigados da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), pela disponibilidade de água para produzir e fazer entregas de alimentos durante todo ano. Três projetos de 2017 ainda estão em execução, concluindo a entrega de 387,5 toneladas de alimentos para 14.950 pessoas, mas com a ajuda dos técnicos da empresa os agricultores irrigantes já propuseram a entrega de mais 354,2 mil quilos este ano, contemplando mais 12.730 beneficiados.

Segundo dados contabilizados Sandro Luiz Prata, gerente de Agronegócios da Cohidro, que se dedica ao PAA desde 2008, ocorrendo a aceitação das sete propostas que auxiliou os agricultores a fazer em 2018, serão 1.599 participações destes irrigantes em 47 projetos encaminhados à Conab nos últimos 10 anos, da mesma forma que totalizam 144.461 pessoas estarão listadas nestes projetos como beneficiadas com alimentos. Estes que somariam 3.991.027 quilos plantados e colhidos nos polos de irrigação pública do Estado e que geram, de renda bruta ao produtor, R$ 11.983.910,64, em valores corrigidos pelo IGP-M.

Sandro Prata auxilia diretamente os agricultores na organização documental e na formulação das propostas de fornecimento de alimentos ao PAA – Foto Fernando Augusto (Ascom Cohidro)

“Nosso trabalho é de primeiro mobilizar os produtores interessados em fazer entregas ao PAA a se organizarem em associações ou cooperativas, e isso inclui a orientação quanto à regularização de toda documentação necessária, como a DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf) física e a jurídica. Após isso, tem a parte de montar a proposta que inclui a quantidade de produtores, que baseado nos itens que eles podem oferecer, vai determinar a quantidade de alimentos que, por sua vez, vai também indicar quantas pessoas serão assistidas pelas doações. O valor do projeto vai ser baseado na tabela da Conab sobre a quantidade de alimentos. Sendo que em 2018, propostas acima de R$ 80 mil têm menos chance de serem aceitas. Por este motivo é que orientamos os produtores para que fossem feitos sete projetos menores dessa vez”, relata Sandro Prata.

Para o presidente da Cohidro, Carlos Melo, o apoio na organização do PAA, dado aos produtores que a empresa assiste, é um investimento que até agora sempre surtiu bons resultados. “São dez anos em que a irrigação que a empresa fornece já abonou mais de R$ 10 milhões que foi para o bolso do agricultor familiar que participa desses projetos. Dinheiro a mais, pois no contrato com a Conab é estabelecida uma garantia de escoamento da produção, de que aquilo que plantar vai ter destino certo e preço justo, sem contar com a sorte na especulação dos atravessadores. O melhor é que ajuda famílias sem condições de comprar alimento e instituições filantrópicas, como hospitais, asilos e creches. Até hoje, só com o alimento adquirido pela Conab nos perímetros do Governo do Estado, foram mais 130 mil pessoas que já receberam esta assistência”, informa.

As propostas enviadas à Conab passam por um ‘ranqueamento’ para determinar quais projetos terão sua parte no orçamento determinado em cada estado. Pontuam mais os projetos com os valores mais baixos; os que possuírem maior número de proponentes mulheres, assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais, a oferta de produtos orgânicos e ainda o grau de vulnerabilidade à insegurança alimentar do município beneficiado com a ‘doação simultânea’. Também servem de critério de desempate o índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM), renda per capta do fornecedor e se a proposta foi enviada pelo sistema online do PAA. Em sergipe, associações de dentro e fora dos perímetros disputam os recursos na ordem de R$ 453.200,00, para 2018, valor bem abaixo dos R$ 625 mil que só os agricultores assistidos pela Cohidro receberam nos projetos do ano passado.

João Quintiliano da Fonseca Neto, diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, lista os grupos de produtores que, com ajuda daCohidro, propuseram projetos à Conab este ano. “Só de Lagarto são três, a Appip (Associação de Produtores do Perímetro Irrigado Piauí), o Movimento Associativista do Brejo e a Cooperappip (Cooperativa dos Produtores do Perímetro Irrigado Piauí), onde participam 66 produtores que propõem fornecer alimentos para 6 mil pessoas. De Itabaiana, no perímetro da Ribeira, temos as associações dos povoados Lagoa do Forno e São José, juntas têm 31 produtores e mais 3.650 beneficiados. Já de Canindé de São Francisco temos a Cofrucal (Cooperativa de Fomento e Comercialização do Perímetro Irrigado Califórnia) e a Assai (Associação dos Agricultores de Canindé de São Francisco), formalizando mais 41 produtores com projetos para atender outras 3.660 pessoas”.

Receptoras

Atualmente, toda ‘doação simultânea’ que sai dos perímetros irrigados tem como destino os centros de referência da assistência social (Cras). Nos novos projetos, serão atendidos os municípios aonde ocorrem às coletas, ou seja, em que os agricultores dos perímetros plantam e propõem projetos ao PAA, além da cidade de Simão Dias. Nesta, hoje ainda ocorrem entregas da Appip de Lagarto no projeto iniciado em 2017, que 18 produtores irrigantes se propuseram à doação de 37.647 quilos de alimentos, que está sendo concluída agora. No Cras simão-diense, uma parte dos alimentos é distribuída às famílias carentes cadastradas na instituição, a outra é destinada ao preparo de refeições aos internos do Asilo São Francisco de Assis, da casa de acolhimento para menores e dos pacientes da Unidade de Pronto-Atendimento de Saúde (UPA), todos administrados pela prefeitura.

 

Última atualização: 25 de março de 2019 19:03.